quinta-feira, 14 de junho de 2012

A flor


O tribunal estava lotado, todos com caras de ódio observando àquela que tinha cometido tão grave crime.
A promotoria se esforçava em demonstrar a gravidade do ato cometido e a defesa em explicar que o ilícito era apenas uma tentativa de imprimir o lúdico a pessoas tão desprovidas de beleza em seu dia a dia.
As senhoras mais exaltadas ressaltavam a importância de uma punição severa que demonstrasse que tal atitude jamais seria tolerada naquela cidade, seria uma maneira de mostrar a todos que por ali passassem, que ali era um local onde a família era respeitada e que qualquer um que tentasse repetir aquela condenável atitude teria o mesmo destino.
Testemunhas detalhavam enfaticamente o ocorrido e tentavam demonstrar o quanto aquilo era inescrupuloso e que a ré não demonstrava o menor remorso pelo crime cometido. Ela por sua vez parecia estar em outro planeta observando a arquitetura do lugar, hora assustada, hora achando engraçado a ênfase na fala daquelas pessoas.
Então o juiz chamou a criminosa ao banco das testemunhas para dar a sua declaração, o advogado de defesa protestou, mas foi inevitável.
O promotor logo perguntou o porquê de tal ato e a garota respondeu que todos pareciam tão sérios e bravos naquela cidade, que ela pensou que pintar uma flor na calçada talvez arrancasse alguns sorrisos e melhorasse a vida dos que ali viviam. Uma mulher se levantou e disse que pichações não eram aceitas por ali e que este tipo de ato devia ser enfaticamente reprimido, pois mesmo que por um motivo nobre, não reprimi-lo seria automaticamente dar um recado a outros pichadores de que poderiam se safar.
A garota então disse que não esperava que todos se irritassem daquela maneira e que se seu desenho era tão ofensivo ela mesma o limparia. Ela ainda citou que havia se mudado recentemente, mas achava que as pessoas daquele lugar precisavam de mais amor pois estavam o tempo todo preocupadas com a aparência de suas casas e se esqueciam de dar valor as pessoas, que são a única coisa que realmente importa. Terminado de dizer isto ela deu uma rosa ao promotor e um beijo em sua bochecha, pediu desculpas e prometeu não mais repetir sua atitude tão desprezível.
O juiz se emocionou com o depoimento e decidiu inocentar a garota de 3 anos que tinha cometido o grave crime de pintar uma flor na calçada com seu giz de cera e por tal motivo irritado os habitantes daquela pequena cidade ao sul da Califórnia.

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