quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O mar se abriu


E o mar abriu, revelando por debaixo das águas agora suspensas em dois paredões, mais do que apenas terra, haviam ali escombros e barcos, ouriços e peixes que ainda tentavam respirar, havia a perspectiva de chegarem sãos, salvos a outra margem, de não se afogarem nem sucumbirem em meio a tantas coisas escondidas na terra que agora tomava lugar no que antes era um mar revolto.
O mar se abriu e agora havia um caminho a seguir, um caminho incerto, mas era melhor do que o estagnar vivido ate então. Se olhavam perplexos ainda sem acreditar naquilo, queriam seguir mas a imagem que vinha às suas cabeças era do mar se fechando novamente sobre eles. "La vai", pensaram se entreolhando, começaram a caminhada a passos largos mas com os corações apertados, venciam um passo após o outro aquela distancia que parecia muito maior que seu real tamanho em virtude do medo que os consumia, vez ou outra percebiam que estavam sob os domínios do mar ao ver algum animal marinho a se debater ou por alguma embarcação que conseguiam enxergar, isto lhes fazia tremer o corpo, arrepiava-lhes a espinha mas ainda assim, com medo, caminhavam.
Quando finalmente estavam próximos do fim da jornada, foi que perceberam que não conheciam a outra margem e que ela poderia ser idêntica a anterior tão cheia de problemas, traumas e perigos, ela lhe chamou atenção ao fato, mas ele sabia que na pior das hipóteses estavam caminhando, "retroceder jamais" pensou, segurou firme a mão dela e continuou a andando fingindo não ter escutado seus comentários, assim, meio contrariada, seguiu em frente por aquele novo caminho, hora amedrontada, hora sorrindo.
Ao pisarem em terra seca, na outra margem, ela lhe disse que seus problemas ainda os perseguiam, ela podia enxerga-los vindo pelo mar ainda aberto, ele apenas sorriu e pediu que ela não olhasse para trás. Começou a lhe mostras as diferenças daquele novo lugar, começou a mostrar que teriam tudo que precisassem para se manterem seguros e felizes, cuidava de cada detalhe para que ela esquecesse de olhar para o mar ainda aberto com os problemas marchando e clamando por sua atenção, ela assim o fez e no momento em que percebeu que estava segura, no momento em que teve a certeza de que seus problemas eram meras cartas de baralho sopradas pelo vento, tentando atravessar um oceano para impedi-lá de chegar a ser do tamanho que foi destinada a ter, o mar se fechou sobre eles, eliminado seu grito desesperado de atenção, e assim, em um abrir e fechar de olhos foram eliminados, sucumbiram a sua fé e a sua perseverança e agora ela podia seguir viagem, planejar sem o peso do passado, ainda não notava seu próprio tamanho, isto somente ele via, mas estava pronta, livre dos seus grilhões e agora ela iria voar.

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