sábado, 5 de maio de 2012

A Menina e o Bonsai

A menina foi levada para comprar seu primeiro cachorro, os pais acharam que como toda criança Ane merecia ter um amiguinho e ela realmente queria, mas antes de sair de casa sua mãe roubou um pouco da infância dela.
Ela disse que Ane iria ganhar um cachorrinho, mas não seria uma coisa só boa, seria uma coisa ruim e ela não gostaria de sair de casa na chuva para ver se não faltava algo para o cachorro ou de ser suja por ele quando iria sair para passear. A mãe de Ane teve a capacidade de dizer pra ela que um dia o cachorro ia morrer e todo amor que ela depositasse no cachorro iria se transformar em dor e ela a carregaria para o resto da vida.
Ane já saiu de casa esperando para encontrar com o bichinho que iria fazer com que ela sofresse para sempre. Antes do carro começar a andar ela teve uma ideia: "eu vou comprar uma árvore, ouvi dizer que elas duram centenas de anos, ela viveria mais e o sofrimento seria dela".
Virou para a mãe e disse que não queria mais o cachorro, queria uma árvore, a mãe estranhou, disse que queria saber o porque e a menina pensou que sua mãe só podia estar brincando já que ela mesma à havia prevenido do mal que seria ter um cachorro. Depois de conversarem um pouco chegaram a conclusão de que a única árvore que ela poderia ter seria um bonsai. Quando chegaram à loja, ela foi olhando os bonsais e pensou: "pegarei um bem novo, assim ele será criança como eu", ela se ajoelhou na frente do mais barato de todos e disse:
- É esse aqui!
Seus pais disseram que sim e ela falou no canto do ouvido do bonsai:
- Terás que ser um grande amigo, pois será meu amigo a vida inteira.
Não se sabe se aquele bonsai era especial ou aquelas palavras eram mágicas, o que se sabe é que ele abriu os olhos e fez o sorriso que qualquer pessoa que ouvisse isto faria, mas fechou rápido, pensou que os amigos já tem que ser amigos pra quererem ser amigos pra sempre. Mesmo assim gostou muito de ouvir aquilo porque de algum modo pessoas  passavam por uma vida inteira sem ouvir essas lindas palavras.
Ela o levou na mão e toda vez que ele espiava estava ela a olhar-lo e sorrindo ele pensou: "eu já gostei dela"
Ela o colocou na sala, na única janela da casa que recebia as primeiras luzes do dia. Durante toda primavera ela deu a ele todo o carinho do mundo e veio o verão e no final do verão ele decidiu que ia falar com ela, afinal, ela poderia saber que ele não era uma árvore normal.
Enquanto pensava nisso ele olhou para fora e viu a primeira folha de outono começar a ficar marrom, ele pensou que um dia alguém havia passado por ali e dito que o outono e o inverno serviam para a natureza ficar menos bela e darmos mais atenção às pessoas, ou seja, ela o amaria menos e deixaria de dar-lhe atenção quase meio ano. Então ele começou a pensar no que faria para ela não abandona-lo, pensou em ser uma árvore de frutas, mas lembrou que não podia ser uma já que ele não era uma árvore. Depois pensou que podia ser uma árvore de natal, cheia de luzes, mas ele lembrou que faltava mais de meio ano para o natal, pensou que poderia se fantasiar de palhaço, "No dia em que foram no circo ela voltou muito feliz, sei lá, quem sabe de boneca?  Não, isto não".
Enquanto pensava o dia seguinte foi chegando e ela acordou, olhou para e perguntou ao vê-lo com seus galhos baixos:
- Por que tu ta tão triste?
Ele sem pensar respondeu:
- Acho que não poderei ser um bom amigo no Outono, minhas folhas vão cair e ficarei feio.
Ela nem prestou atenção ao que o bonsai estava falando, só o olhou e disse:
- Que tipo de amiga eu seria se não fosse tua amiga nas épocas que mais vais precisar de mim?
Ele sorriu e os dois seguiram com sua amizade como toda linda amizade deve ser, linda no verão ou no inverno, quando estamos cheios de vida ou meio murchinhos e sem folhas.

Autor: Téo

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