sexta-feira, 27 de abril de 2012

Cabral-Portão 18:30

Paulo pegou o Cabral-Portão às 18:30 lotado como sempre, ele se perguntou como tinha um lugar vago a direita do cobrador, se sentou, estava sem mp3 e sem nada para ler então ficou lá, olhando para fora esperando chegar ao Cabral. Enquanto esperava ele viu o motorista resmungando, ficou ali analisando aquele senhor nos seus cinquenta e tantos anos com um bonezinho de pelo menos dez e uma aparência terna e carinhosa, mas ele resmungava.
Não era seu feitio se meter na vida dos outros, mas foi quase automático quando ele perguntou ao motorista:
- E ai meu velho, o que ta te incomodando?
- Nossa cara, eu não sou de me irritar mas tem um piá que ta me tirando do sério, você acredita que o moleque me espera todo dia e quando eu vou passar pelo semáforo ele aperta o botão do pedestre e passa bem devagar na minha frente e fica rindo da minha cara.
- Mas que bobagem. A quanto tempo ele vem fazendo isto?
- 3 semanas, 3 semanas, 3 SE-MA-NAS!
- É, acho que poderia me irritar também.

Foi exatamente neste momento que ele viu o garoto, devia ter uns 10 ou 11 anos e puxava um carrinho de carregar papelão, ele estava lá, esperando o sinal. Faltando uma quadra e meia ele apertou o botão, o sinal fechou e ele começou a sorrir e passar lentamente na frente do ônibus mas desta vez o motorista desceu, o piá não sabia o que fazer, tinha medo do motorista mas tinha medo de perder o carrinho. Ele ficou parado até o motorista começar a sacudi-lo pelos ombros dizendo:
- E agora moleque? Agora tu vai tomar uns cascudos, porque vem fazendo isso hein? Porque decidiu me incomodar? Fala pirralho, antes que eu te esfole.
Foi então que o menino começou a falar e o motorista a mudar de feição:
- Desculpa tio, mas eu passo por aqui à meses e nesses meses todos sempre que eu passo, eu vejo aquela menina lá – o motorista olhou para a sacada que o menino apontava e nela estava uma menina também nos seus dez, onze anos nervosa e preocupada vendo o que estava acontecendo, mas o que mais o impressionou foi que a guria estava numa cadeira de rodas, então voltou seu olhar para o guri  e continuou - e ela nunca ri, só fica lá parada e desde que eu comecei a incomodar o senhor  ela sempre ri e eu não sei porque, mas eu gosto quando ela ri.
Ele largou o guri e entrou no ônibus, dirigiu até o Cabral e lá Paulo desceu, sem perguntar nada pois quando correu pra janela ele viu e ouviu tudo que aconteceu.
Mas no dia seguinte ele passou o dia esperando chegar as 18:30 e quando chegou, ficou lá esperando pra ver e foi como ele imaginou, o guri estava lá, parou o ônibus e ficou rindo do motorista que colocou a cabeça pra fora da janela e o ameaçou, o xingou e olhou pra menina da sacada rindo e voltou pra dentro do ônibus sorrindo, Paulo também sorriu.

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