terça-feira, 13 de novembro de 2012

Antes que o mundo acabe!


Disse adeus e atravessou a rua, hoje não iria para casa, hoje pegaria o mesmo ônibus que por tanto tempo foi seu destino, aquilo que há tanto ele tentou evitar. Mais uma vez ele voltava cabisbaixo a residência que nunca foi seu lar, mais uma vez tinha que admitir que fracassou.
No caminho pensava em tudo, no péssimo dia que teve, que quando ouviu o pedido dela já sabia o que vinha a seguir, só não imaginou que ela fosse caminhar tão rápido para o segundo passo, as palavras ainda marcavam profundamente seu coração, nem percebeu o curto caminho de volta, se sentia meio aéreo e quando deu por si estava pisando entre uma cor e outra na calçada. “Não é fácil regredir” pensou, “logo agora que as coisas iam tão bem”.
O elevador já o esperava quando adentrou o edifício, parou alguns minutos tomando coragem de abrir a porta e ao entrar teve que ouvir perguntas que ele não queria responder. Foi evasivo o quanto pôde, lembrou-se que mesmo estando triste pela manhã, ela não estava tão ruim como sua noite sabendo que havia perdido a certeza que tinha de estar ao lado daquela que amava. O whisky lhe aqueceu um pouco e permitiu que se sentasse para escrever o que sentia já que não havia com quem desabafar.
“O convés começou a baixar, preciso achar por onde esta entrando esta água antes que tudo vá a pique” retrocesso é sempre o início do naufrágio e ele sabia muito bem disto. Ela havia se desprendido de medos, dito que diria sim, que tê-lo a seu lado era tudo que ela queria, mas, do dia para a noite tudo mudou, ela teve medo. Ele pode ver seu antigo amigo se levantar enquanto trocava mensagens com ela, ela parou de responder e só voltou quando ele apareceu, ele não olhava-o à tempos mas fez questão de olhar em seus olhos com um sorriso irônico de quem havia se aproveitado de um instante de fraqueza para lançar a dinamite que há tempos procurava brecha para ser lançada, sorriso de quem tem a certeza da conquista, de que finalmente derrubou um oponente ainda que sua vitima nunca o tenha visto como tal.
Ele já não encontrava um motivo para acreditar em justiça divina, parecia que ela só existia quando era ele que errava, via como todo o canalha sempre se dava bem, como o mau sempre vencia, começou a perceber que não eram as pessoas o problema, ele nunca dava certo com ninguém então deveria obviamente estar errando em algum lugar comum. Olhava para o princípio do fim como quem observa a tempestade chegando ao longe, aproveitando a calmaria, observando o relampejar, querendo ficar o máximo possível abrigado aonde estava, sabendo que o mundo estava prestes a acabar.
E antes do fim do mundo ele queria beija-la o quanto pudesse, queria tocar seus lábios acariciar-lhe o cabelo e dizer que a amava, ainda que soubesse que é inevitável, ainda que não soubesse por quanto tempo ela iria ficar, só queria estar ali até o mundo acabar.

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