domingo, 27 de maio de 2012

A Ilha dos Sentimentos - de Sílvio Anjo.

Era uma vez uma Ilha onde moravam todos os sentimentos:
a Alegria, a Tristeza, a Vaidade, a Sabedoria, o Amor e outros ...
Um dia avisaram aos moradores da Ilha que ela seria inundada. Apavorado, o Amor cuidou para que todos os sentimentos se salvassem.
Ele disse:
- Fujam! A Ilha será inundada!
Todos correram e pegaram os barquinhos para irem até um morro bem alto. Só o amor não se apressou, amava a Ilha e queria ficar um pouco mais ... quando já estava se afogando, o Amor gritou aos outros sentimentos clamando por socorro.
Vinha vindo a riqueza e ele disse:
- Riqueza me leva com você?
– Não posso, meu barco está cheio de prata e ouro, aqui não tem espaço para mais nada!
Passou a Vaidade e o Amor novamente gritou:
- Vaidade, posso ir com você?
– Não, você vai sujar meu barco novo!
Passou a Tristeza e mais uma vez o Amor clamou:
- Me leva com você?
– Até queria te salvar e te levar comigo para um porto seguro, mas estou tão triste que meu barco está cheio de lágrimas, não cabe você!
Passou a Alegria, mas ela estava tão feliz que nem ouviu o Amor gritar. Já desesperado e achando que iria ficar só, o amor começou a chorar. Passou a sabedoria e viu o amor chorando.
– Amor não fique assim ... Não se desespere, meu barco está cheio de livros, mas ainda tem o barco da esperança, acredite nas palavras da Sabedoria, a esperança te salvará!
Então passou um velhinho olhando e falou:
- Sobe Amor ... eu te levo!
O Amor ficou tão radiante que esqueceu de perguntar o nome do velhinho! Por fim, chegando no morro alto, o amor encontrou a Sabedoria e perguntou-lhe:
- Aquele velhinho que me trouxe até aqui são e salvo? Era a esperança?
– Era o Tempo! - Respondeu a Sabedoria.
-O Tempo? Mas por que só o tempo me trouxe até aqui? E a esperança? A esperança não pode morrer!
A Sabedoria respondeu:
- O tempo te salvou, mas usando o barco da esperança, a esperança está viva dentro de ti, mas só o tempo é capaz de reconhecer um grande Amor!

Texto Original: http://semtalentoparanada.blogspot.com.br/2011/12/verdadeira-historia-dos-sentimentos.html

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A construção

Havia uma família que tinha uma bela casa, cada tijolo havia sido colocado com muito cuidado e cada passo da construção estava guardado ainda na memória!
Adoravam a sua localização, tinham alguns problemas de umidade, precisavam de mais um quarto, mas gostavam tanto daquela casa que não conseguiam fazer as reformar com medo de mudar a história da construção daquele lugar obtida com tanta luta.
Vieram as chuvas algumas arvores caíram sobre a casa. Técnicos vieram analisar a construção e constataram que era hora de demolir a casa, pois não resistiria muito tempo. A família viu ruir seu sonho com profunda tristeza e houve muito choro. A dor era imensa, pois as memórias estavam ainda postas dentro deles.
Após perceberem que era inevitável, a família finalmente cedeu e a casa foi enfim derrubada ... era o fim de um sonho, era pior que a morte! Tinham para onde ir mas permaneceram acampados ali, olhando a ruína do que sobrou de seus sonhos,   parecia que queriam protelar o martírio que lhes consumia.
Após um tempo de luto remoendo a dor e relutando em mudar-se, alguns vizinhos se compadeceram e decidiram ajuda-los com materiais e mão de obra. Estar no terreno lhes trazia boas lembranças e dia a dia, tijolo por tijolo, foi sendo construída uma nova habitação, que levava todas as boas experiencias vivenciadas na antiga casa, somadas as experiências novas que viviam ali, na nova construção.
A casa foi erguida melhor e mais moderna, mais adequada as novas necessidades deles, pois agora os moradores conheciam os pontos que mereciam cuidado, os que precisavam de mudança e poderiam finalmente fazer as melhorias necessárias.
Ao final da construção, perceberam que haviam feito uma casa muito mais forte e muito mais bela do que já haviam sonhado em ter e que agora viveriam confortavelmente em um lugar que não iria mais ruir.
Perceberam que as vezes a gente se agarra ao passado e aos sonhos que almejou e se esquece de olhar para o futuro e adaptar nossos sonhos permitindo que algo novo preencha-nos com os ventos bons da mudança. A história precisa ser respeitada, mas até uma tragédia as vezes é necessária para nos fazer seguir em frente, rumo ao que está preparado para nós.

sábado, 5 de maio de 2012

O Reencontro.

Ele se aproximou devagar, há tempos que não se viam e teve medo da reação dela. Ficou um tempo observando ao longe, na verdade ele a admirava. "Há quanto tempo não a vejo? E ela está ainda mais linda".
Eram o casal mais apaixonado que alguém podia conhecer, mas ela recebeu um convite para estudar no exterior. Com muito custo a convenceram de que seria bom para ela e durante todo este tempo ambos ficaram separados, conversando pelos meios eletrônicos a que tinham acesso.
A correria do dia a dia fez com que os contatos fossem cada vez menos frequentes e ela teve dúvidas, sentiu carência e se permitiu namorar um outro rapaz.
Ambos concordaram que era melhor a liberdade que a mentira, então ele também viveu sua vida, mas nem por um instante deixaram de lembrar um do outro. Ela o esperava ansiosamente, tinha passado todos estes meses imaginado este momento.
Demorou a perceber que ao longe naquele terminal, ele a observava. Quando ele se aproximou, caminhava olhando-a fixamente, tentando intuir que pensamentos passavam por sua cabeça naquele momento somente lendo-os em seu olhar. Ela por sua vez não sabia o que fazer com as mãos, estava sem jeito até para ficar parada, imaginava de que maneira iria cumprimenta-lo. "Melhor esperar e ver o que ele faz". 
Quando ele finalmente se aproximou, ela abaixou levemente o rosto com ar de quem espera a aproximação, ele acariciou seus belos cabelos com a mão direita e se permitiu afagar-lhe o rosto. Ela levantou o ombro pra perto do rosto, pressionando a mão dele, como quem quer aproveitar um pouco mais daquele instante único de um carinho sem igual.
Ele a olhava nos olhos e via neles um brilho único, brilho que ele não via em nenhuma outra mulher. Escorregou a mão direita para a nuca dela, aproximou seus lábios lentamente e a beijou devagar, conforme ela se soltava ele a puxava um pouco mais para perto, como quem quer sentir alguém com mais intensidade. Neste momento os dois puderam sentir a adrenalina que corria seus corpos e aumentava a intensidade do beijo, aquela que poucas pessoas são capazes de provocar.
Seguiram abraçados, sentindo em si o coração do outro, trocando juras de amor ali, naquele terminal, por um bom tempo. Ela dizia que não iria mais ficar longe dele e ele falava para ela sobre o quanto a amava e sentira sua falta.
Aos passantes as reações eram imprevisíveis, alguns se indignavam com a cena que viam, outros olhavam com desejo e havia ainda aqueles que sorriam com os olhos ao ver um amor verdadeiro em um mundo tão cheio de amores de brinquedo.
Eles teriam um dia atarefado até que chegasse a noite e pudessem finalmente matar a saudade que os consumia, mesmo assim pareciam querer prolongar mais e mais aquele instante que preenchia seus corações tão cansados da dor da ausência, ausência esta, que só conhece aquele que sabe quem é este tal de amor.

A Menina e o Bonsai

A menina foi levada para comprar seu primeiro cachorro, os pais acharam que como toda criança Ane merecia ter um amiguinho e ela realmente queria, mas antes de sair de casa sua mãe roubou um pouco da infância dela.
Ela disse que Ane iria ganhar um cachorrinho, mas não seria uma coisa só boa, seria uma coisa ruim e ela não gostaria de sair de casa na chuva para ver se não faltava algo para o cachorro ou de ser suja por ele quando iria sair para passear. A mãe de Ane teve a capacidade de dizer pra ela que um dia o cachorro ia morrer e todo amor que ela depositasse no cachorro iria se transformar em dor e ela a carregaria para o resto da vida.
Ane já saiu de casa esperando para encontrar com o bichinho que iria fazer com que ela sofresse para sempre. Antes do carro começar a andar ela teve uma ideia: "eu vou comprar uma árvore, ouvi dizer que elas duram centenas de anos, ela viveria mais e o sofrimento seria dela".
Virou para a mãe e disse que não queria mais o cachorro, queria uma árvore, a mãe estranhou, disse que queria saber o porque e a menina pensou que sua mãe só podia estar brincando já que ela mesma à havia prevenido do mal que seria ter um cachorro. Depois de conversarem um pouco chegaram a conclusão de que a única árvore que ela poderia ter seria um bonsai. Quando chegaram à loja, ela foi olhando os bonsais e pensou: "pegarei um bem novo, assim ele será criança como eu", ela se ajoelhou na frente do mais barato de todos e disse:
- É esse aqui!
Seus pais disseram que sim e ela falou no canto do ouvido do bonsai:
- Terás que ser um grande amigo, pois será meu amigo a vida inteira.
Não se sabe se aquele bonsai era especial ou aquelas palavras eram mágicas, o que se sabe é que ele abriu os olhos e fez o sorriso que qualquer pessoa que ouvisse isto faria, mas fechou rápido, pensou que os amigos já tem que ser amigos pra quererem ser amigos pra sempre. Mesmo assim gostou muito de ouvir aquilo porque de algum modo pessoas  passavam por uma vida inteira sem ouvir essas lindas palavras.
Ela o levou na mão e toda vez que ele espiava estava ela a olhar-lo e sorrindo ele pensou: "eu já gostei dela"
Ela o colocou na sala, na única janela da casa que recebia as primeiras luzes do dia. Durante toda primavera ela deu a ele todo o carinho do mundo e veio o verão e no final do verão ele decidiu que ia falar com ela, afinal, ela poderia saber que ele não era uma árvore normal.
Enquanto pensava nisso ele olhou para fora e viu a primeira folha de outono começar a ficar marrom, ele pensou que um dia alguém havia passado por ali e dito que o outono e o inverno serviam para a natureza ficar menos bela e darmos mais atenção às pessoas, ou seja, ela o amaria menos e deixaria de dar-lhe atenção quase meio ano. Então ele começou a pensar no que faria para ela não abandona-lo, pensou em ser uma árvore de frutas, mas lembrou que não podia ser uma já que ele não era uma árvore. Depois pensou que podia ser uma árvore de natal, cheia de luzes, mas ele lembrou que faltava mais de meio ano para o natal, pensou que poderia se fantasiar de palhaço, "No dia em que foram no circo ela voltou muito feliz, sei lá, quem sabe de boneca?  Não, isto não".
Enquanto pensava o dia seguinte foi chegando e ela acordou, olhou para e perguntou ao vê-lo com seus galhos baixos:
- Por que tu ta tão triste?
Ele sem pensar respondeu:
- Acho que não poderei ser um bom amigo no Outono, minhas folhas vão cair e ficarei feio.
Ela nem prestou atenção ao que o bonsai estava falando, só o olhou e disse:
- Que tipo de amiga eu seria se não fosse tua amiga nas épocas que mais vais precisar de mim?
Ele sorriu e os dois seguiram com sua amizade como toda linda amizade deve ser, linda no verão ou no inverno, quando estamos cheios de vida ou meio murchinhos e sem folhas.

Autor: Téo