Os gritos eram audíveis a longas distâncias e quem passava por perto sentia um frio na espinha. Ali perto, na fila para aqueles portões, Maria e Claudia apenas observavam o movimento. Um rapaz passou oferecendo-lhes feijões vermelhos em troca de um pouco da água em seus cantis, disse que seria o passaporte para a entrada da Cidade, explicou que os que não eram aprovados para a entrada iriam para o exílio no pavilhão dos gritos. Maria não queria saber de gritos nem de cidade, não queria estar na fila mas fora carregada junto com todos que conhecia para aquele ponto sem ter tido uma opção. Com medo de que fosse verdade fez a troca mas exigiu dois feijões, um para ela e outro para Claudia. A medida que chegavam perto, os gritos se tornavam mais fortes e percebeu que a trilha para a cidade estava vazia. Perto delas passou um outro rapaz, ele viu os feijões vermelhos e com feição preocupada pediu-lhes que se livrassem deles, elas explicaram o que ocorrera e ele então propôs a troca dos feijões vermelhos por duas flores raras que eram o verdadeiro passaporte para a cidade. Claudia não aceitou a troca mas Maria sim. Conforme o tempo passava, outros mercadores ofereciam diferentes soluções milagrosas para não serem enviadas ao pavilhão dos gritos. Quando finalmente chegaram, o senhor a porta perguntou-lhes o que tinham e quando mostraram deu passagem a Maria, mas Claudia deveria ser enviada ao temido pavilhão. Maria então abdicou de sua flor em prol da irmã, disse que era injusto que não escolheram aquela fila e que seus princípios não lhe permitiam ser feliz enquanto outros sofriam. Claudia também não aceitou ir sem a irmã. Questionadas sobre as oportunidades de obter a flor, explicaram que haviam milhares de mercadores e que cada um tinha um produto diferente que supostamente abriria passagem a cidade e que isto era injusto com todos. O porteiro então ofereceu passagem as duas que ainda assim se negaram pois muitas pessoas não teriam a mesma chance. Ele então explicou-lhes que verdadeiramente aquele tipo de bondade é que era a chave para a cidade e que ninguém que aceitasse o sofrimento alheio era digno dela, a autorização de entrar tinha sido somente mais um teste onde todos falharam e por isto a cidade e sua estrada estavam vazias.
O porteiro então lhes convidou a conhecer a cidade. Enquanto subiam pela estrada, ouviam gritos de ódio e clamor, Maria pensava no que encontraria e se não estava caindo em mais uma armadilha. Elas foram recebidas pelo dono do lugar que em retribuição a elas abriu as portas a todos aqueles que ansiosamente esperavam sua vez na fila e àqueles presos no pavilhão. Os gritos cessaram e um grande banquete foi montado onde Maria foi coroada rainha daquele novo país. A cidade em festa agora recebe a todos que tem a coragem de demonstrar bondade em seus corações e do pavilhão nunca mais foram ouvidos gritos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário