As estações passam e modificam a vista aos amantes da
natureza, mas naquele palacete no batel, a vista era belíssima a qualquer dia do
ano. Porém algo estava errado, uma jovem, cansada das desilusões da vida, da
rotina, das coisas que fazia e das que deixava de fazer.
Amanda era belíssima,
beirava os dezenove anos, tinha tudo que uma garota da sua idade poderia
querer, mas algo lhe faltava e naquela tarde, ela estava debruçada no parapeito
da enorme sacada de seu quarto com ar de fatigada, parecia uma bela pintura a
quem olhava-a de fora. Observava as belas árvores de seu quintal, sem folhas nesta
época do ano, imaginando que tipo de sentimento era aquele que tomava conta
dela, que ausência estranha lhe corroia por dentro e fazia imaginar o porque de
estar ali parada.
Tinha amigas apenas na vizinhança e as saídas ao shopping já
não preenchiam mais seu tempo como antes. Amanda queria algo novo, queria um
pouco de vida, a vida que não tinha, a vida que via além dos grandes portões da
propriedade em que morava, estampada nos rostos das pessoas que passavam na
rua, a vida que via nos filmes e novelas da TV, ao invés disto, estava lá,
entediada, presa em sua masmorra pessoal sem saber nem mesmo que tipos de
sentimentos passavam em seu coração.
A noite reservava um jantar de gala, “mais um jantar
enfadonho onde verei as mesmas pessoas dizendo as mesmas coisas de sempre”, inventou
uma indisposição e decidiu ficar em casa, já ia se arrumando para dormir quando
ouviu uma freada seguida de um estrondo. Foi a sacada observar e viu um veículo
todo amassado contra um poste em frente ao palacete, caminhou até o portão mais
por curiosidade, já que havia muitas pessoas atendendo o rapaz que parecia não ter
se ferido. Ficou ali, observando aquela cena diferente à seu dia e começou a
conversar com algumas pessoas, jovens se
preparando para ir a um bar ali perto, que pararam para ver se ninguém havia se
ferido. E foi assim, despretensiosamente que a moça que viu uma amiga em Amanda,
a convidou para acompanha-los.
A jovem se arrumou depressa e foi de carona no carro da mais
nova amiga, não era seu costume sair e tão pouco seus pais permitiriam, mas
eles não estavam em casa e ela precisava de um pouco de adrenalina. No bar, a
moça se divertiu, sorriu, foi cortejada e chegou a beijar um rapaz, mas tão
pouco era aquilo que lhe interessava e logo ela voltou para pista dançar. Permaneceram
no local por algumas horas e depois decidiram ir a outro lugar.
Quando já retornavam o carro foi parado por policiais que
averiguavam a documentação enquanto Amanda desceu por um momento, nunca tinha
visto uma abordagem policial de perto e achou interessante todo aparato
utilizado naquela blitz. No carro ao lado, sentado no capo estava um jovem que
chamou a atenção dela, ela era uma moça tímida, mas resolveu se aproximar e puxar
conversa enquanto aguardavam o termino da averiguação. Trocaram telefones e
seguiram cada um seu caminho.
A jovem que dirigia resolveu comprar cigarros e qual foi à
surpresa de Amanda ao ver aquele jovem parado no mesmo posto. Enquanto a amiga
esperava na fila da loja de conveniências, ela voltou a conversar com o rapaz
que aguardava o frentista abastecer. O
dia já começava a amanhecer quando ela chegou em casa, ficou surpresa ao não
ver seus pais que chegaram logo depois.
O rapaz ligou no dia seguinte, e no outro, e no outro, até
que decidiram finalmente sair. Ela não tinha grandes esperanças de um romance,
queria apenas que o momento em que estivesse com ele fosse bom, mas algo tinha
mudado dentro dela, uma só noite lhe mostrou que ela poderia fazer diferente e
se tornar senhora de sua vida e que a decisão por fazer algo tinha mexido com
ela. Amanda já não sentia mais o vazio que tanto a incomodava, agora era apenas
ansiedade, mas uma ansiedade boa de não saber o que esta por vir, mas de saber
que finalmente, alguma coisa mudou. Também percebeu que cada escolha daquele
dia, mesmo as que pareciam tão insignificantes, tinha contribuído para tornar
aquela noite única e para lhe mostrar que havia outro caminho, com outras
pessoas e que ela seria mais feliz, se ela se permitisse viver.
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