domingo, 29 de abril de 2012

Amanda


As estações passam e modificam a vista aos amantes da natureza, mas naquele palacete no batel, a vista era belíssima a qualquer dia do ano. Porém algo estava errado, uma jovem, cansada das desilusões da vida, da rotina, das coisas que fazia e das que deixava de fazer.
Amanda era belíssima, beirava os dezenove anos, tinha tudo que uma garota da sua idade poderia querer, mas algo lhe faltava e naquela tarde, ela estava debruçada no parapeito da enorme sacada de seu quarto com ar de fatigada, parecia uma bela pintura a quem olhava-a de fora. Observava as belas árvores de seu quintal, sem folhas nesta época do ano, imaginando que tipo de sentimento era aquele que tomava conta dela, que ausência estranha lhe corroia por dentro e fazia imaginar o porque de estar ali parada.
Tinha amigas apenas na vizinhança e as saídas ao shopping já não preenchiam mais seu tempo como antes. Amanda queria algo novo, queria um pouco de vida, a vida que não tinha, a vida que via além dos grandes portões da propriedade em que morava, estampada nos rostos das pessoas que passavam na rua, a vida que via nos filmes e novelas da TV, ao invés disto, estava lá, entediada, presa em sua masmorra pessoal sem saber nem mesmo que tipos de sentimentos passavam em seu coração.
A noite reservava um jantar de gala, “mais um jantar enfadonho onde verei as mesmas pessoas dizendo as mesmas coisas de sempre”, inventou uma indisposição e decidiu ficar em casa, já ia se arrumando para dormir quando ouviu uma freada seguida de um estrondo. Foi a sacada observar e viu um veículo todo amassado contra um poste em frente ao palacete, caminhou até o portão mais por curiosidade, já que havia muitas pessoas atendendo o rapaz que parecia não ter se ferido. Ficou ali, observando aquela cena diferente à seu dia e começou a conversar com algumas pessoas,  jovens se preparando para ir a um bar ali perto, que pararam para ver se ninguém havia se ferido. E foi assim, despretensiosamente que a moça que viu uma amiga em Amanda, a convidou para acompanha-los.
A jovem se arrumou depressa e foi de carona no carro da mais nova amiga, não era seu costume sair e tão pouco seus pais permitiriam, mas eles não estavam em casa e ela precisava de um pouco de adrenalina. No bar, a moça se divertiu, sorriu, foi cortejada e chegou a beijar um rapaz, mas tão pouco era aquilo que lhe interessava e logo ela voltou para pista dançar. Permaneceram no local por algumas horas e depois decidiram ir a outro lugar.
Quando já retornavam o carro foi parado por policiais que averiguavam a documentação enquanto Amanda desceu por um momento, nunca tinha visto uma abordagem policial de perto e achou interessante todo aparato utilizado naquela blitz. No carro ao lado, sentado no capo estava um jovem que chamou a atenção dela, ela era uma moça tímida, mas resolveu se aproximar e puxar conversa enquanto aguardavam o termino da averiguação. Trocaram telefones e seguiram cada um seu caminho.
A jovem que dirigia resolveu comprar cigarros e qual foi à surpresa de Amanda ao ver aquele jovem parado no mesmo posto. Enquanto a amiga esperava na fila da loja de conveniências, ela voltou a conversar com o rapaz que aguardava o frentista abastecer.  O dia já começava a amanhecer quando ela chegou em casa, ficou surpresa ao não ver seus pais que chegaram logo depois.
O rapaz ligou no dia seguinte, e no outro, e no outro, até que decidiram finalmente sair. Ela não tinha grandes esperanças de um romance, queria apenas que o momento em que estivesse com ele fosse bom, mas algo tinha mudado dentro dela, uma só noite lhe mostrou que ela poderia fazer diferente e se tornar senhora de sua vida e que a decisão por fazer algo tinha mexido com ela. Amanda já não sentia mais o vazio que tanto a incomodava, agora era apenas ansiedade, mas uma ansiedade boa de não saber o que esta por vir, mas de saber que finalmente, alguma coisa mudou. Também percebeu que cada escolha daquele dia, mesmo as que pareciam tão insignificantes, tinha contribuído para tornar aquela noite única e para lhe mostrar que havia outro caminho, com outras pessoas e que ela seria mais feliz, se ela se permitisse viver.

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