É madrugada, ele acorda com aquela sensação estranha, os pensamentos a mil e sem um pingo de sono. Ele sabe que deve dormir pois durante o dia não poderá. Fato é que por algum motivo aquela manhã tinha ares propícios a reflexão.
Os dias haviam passado rapidamente e ele já não sabia dizer com certeza se estava bem consigo mesmo. Sentado na janela com uma xícara de café em mãos parecia que tudo estava prestes a mudar para melhor, era aquela sensação corriqueira inerente aos poucos momentos de tranquilidade que a vida moderna lhe permitia ter.
O sol nasceu e ele permanecia ali, inerte apenas a observar as coisas como aconteciam, o movimento dos carros aumentando, o barulho das motocicletas, as pessoas que andavam apressadamente, era a vida de uma cidade. Pensou em quantas histórias passavam em frente a sua janela, cada um com sua família, sua vida, seus problemas e suas conquistas. Entendeu que tudo estava interligado mesmo que aparentemente tão desconexo.
Tomou um longo e demorado banho ainda com aquele ar de reflexão, decidiu que faria tudo diferente neste dia, que só por hoje ia fingir que não haviam compromissos, estava com tempo, podia se dar ao luxo de um ritmo mais lento de preparação.
Pela primeira vez em anos não se sentiu irritado com a demora do elevador e até foi recompensado pelo perfume da bela morena que chegou dentro dele, “de que andar será que ela é?” pensou, “pouco importa, é mais uma história que não vou conhecer”. A vida segue e a rua esta com um ar leve e fresco que só uma manhã pode proporcionar, o trabalho é repetitivo, assim como as piadas do colega da mesa ao lado sempre achando que decorar uma frase de um livro e repeti-la enfaticamente é expressar opinião própria. “Como os dias passam rápido”, pensou.
A noite o caminho é mais escuro e as ruas se enchem de mulheres oferecendo seus corpos, esta noite um pensamento diferente veio a sua cabeça, teve medo de vê-la entre elas, não que pensasse nisto mas percebeu que talvez algumas daquelas moças tivessem mais dignidade que ela. Já estava se tornando praxe acreditar que estava livre e num rápido lampejo seus pensamentos retornarem a ela.
“Como mudar uma vida que não caminha mantendo-se dentro do limiar da rotina?” andar é algo que sempre ajuda, “vou a farmácia, cinco minutos a menos em casa” atravessou a praça e caminhou por dentro do estabelecimento, não procurava nada, nem carregava dinheiro consigo, apenas queria ver alguém, sentir algo diferente, ele precisava se apaixonar. “a moça da sessão de tintas sorriu pra mim” ela ficou mais alguns instantes escolhendo a cor nova do cabelo e foi ao caixa, ele, não falou com ela, apenas continuou seu caminho pra casa, observando e saboreando a vida da cidade. “E agora? O jeito é voltar para o computador e pra mais uma madrugada em que talvez eu durma, talvez não”.
O porteiro sempre leva um tempo a abrir a porta, “assobio pra ele perceber que estou aqui? Ele me viu”. Passando pela portaria um boa noite quase mecânico pra um porteiro que ele não sabe o nome, “o elevador já esta aqui, pelo menos não preciso esperar”, ele nem ao menos sabe porque se importa tanto em ter ou não que esperar o elevador pra chegar em casa e fazer nada.
A porta do elevador se abre e a luz do corredor se acende sozinha, “mais um dia, ou, menos um dia” girou a chave na porta, abriu as janelas para arejar a sala, e logo ligou o computador. Já não havia mais ânimo para as conversas, menos ainda para fazer piadas ou comentários. Atualizou alguns jogos por puro costume, “quando eu vou perceber que não aguento mais jogar esta merda?”
Estava mais cansado que de costume, encostou a cabeça no travesseiro e percebeu que tudo ainda estava como antes, seu coração estava cansado e sua esperança era cada dia menor, lembrou de coisas que haviam acontecido e quis dormir, quis não acordar, mas para sua tristeza sabia que amanhã seria outro dia e que ele teria que levantar!
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