domingo, 22 de abril de 2012

A morte de Ana



O suor lhe escorria o rosto, a faca ainda estava em suas mãos. Ali parado, olhado o corpo dela desfalecido, sentindo o rosto respingado de sangue, o ódio que minutos antes tomava conta dele foi aos poucos sendo substituído pela noção exata do que fizera. Andava em círculos com as mãos junto a cabeça imaginando o que fazer, tentando entender onde perdera o controle para chegar aquele ponto.
Ana e Luiz se conheceram numa festa, ficaram juntos e de tanto ficarem estabeleceram um relacionamento, ela sempre falava do tamanho do seu amor por ele e só ao lado dela ele se sentia feliz e completo. Quando ela começou a se afastar dizia apenas que os afazeres diários estavam ocupando seu tempo mas que ainda o amava como antes. Ele havia se afastado dos amigos e da família e sua vida agora girava em torno dela e cada noite que passava em casa era um martírio de sofrimentos onde acordado tentava encontra-la na cama. Ela, quando o recebia dizia estar cansada para o amor. Numa noite, cansado de estar só, Luiz foi até a casa dela, ele sabia onde a chave estava e a porta era silenciosa. Entrou com cuidado por pensar que ela estava dormindo as duas da manhã. Ouviu alguns barulhos, ela estava nua, entregue sobre o corpo de um estranho no tapete da sala.
Ele saiu da mesma maneira que entrou, possuído pela raiva, sem rumo pelas ruas com um olhar de dar medo a quem o visse. Em sua casa, ligou para ela e disse que queria vê-la, ela disse que estava cansada, ficara até tarde preparando trabalhos de faculdade e não queria vê-lo pois não seria boa companhia. Ele insistiu mas ela não permitiu.
Durante alguns dias ele fingiu não saber e ela permaneceu mentindo, então, ela precisou de ajuda e veio a sua casa, dormiram juntos e então ela disse sobre o favor que precisava. A semana fora ótima e ele quase esqueceu o que tinha visto, então ele terminou o que ela lhe pediu e a ausência voltou a acontecer. Parado em frente a casa dela percebeu quem era o homem que a visitava. No outro dia foi conversar com ele fingindo não saber e em meio a conversas ele contou que estava namorando uma linda mulher que estava saindo de um relacionamento conturbado com um rapaz que nunca amara, disse que ela ainda não tinha conseguido terminar definitivamente com ele mas já não dormiam juntos a quase um ano.
Luiz não conseguiu aceitar, aquelas palavras ardiam a seus ouvidos, foi a casa de Ana e ela relutou em recebê-lo pedindo que fosse embora. Ele insistiu na conversa, ela disse que o amava e ele disse que sabia de tudo, ao invés de admitir ela permaneceu mentindo dizendo que estava decepcionada com ele por não acreditar no que ela dizia. Quando não havia mais como negar, ela gritava dizendo que ele tinha invadido a privacidade dela entrando em sua casa sem o seu consentimento, ele gritava palavrões e ela deu as costas para ele dizendo que a conversa estava terminada e que iria fazer o seu jantar. Luiz a seguiu e ela admitiu a verdade zombando dele, ele a segurou pelo pescoço, ela pegou a faca que estava em cima da pia, ele tomou a faca dela e antes que pensasse no que estava fazendo Ana já estava no chão esfaqueada se esvaindo em sangue.
Sem saber o que fazer, Luiz fugiu, mas a culpa o alcançou antes que alguém soubesse o que tinha acontecido, com as roupas ainda sujas de sangue foi ao morro mais alto que encontrou, teve medo, teve receio, mas não conseguiria viver num mundo sem ela, num mundo sem amor, num mundo em que ele fosse responsável por tirar uma vida. Foi então seu próprio juiz e se atirou da montanha. Há coisas que não tem perdão, há atitudes que não há como voltar e ele sabia disto. Enquanto caia ele pensava nela, pensava em si e entendia que fora uma atitude covarde mata-la e mais covarde ainda se atirar daquela maneira, entendeu então que não era um homem e sim um garoto e percebeu que não tivera coragem nem mesmo de enfrentar as consequências dos seus atos.

Autor: Arthur Lingard

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