segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Just With Love


Helena o espera de banho tomado, roupas íntimas quase imperceptíveis sob uma camisola curta e transparente. O aroma de seu perfume invade toda a sala e, quando Miguel finalmente entra pela porta cansado de mais um dia de trabalho ela vai ao seu encontro e o recebe com um beijo apaixonado.
Ele janta enquanto ela o observa e acaricia levemente seu braço e seus cabelos. Miguel lança sobre ela um olhar de que ainda não está satisfeito e espera pela sobremesa.
Helena o conduz até o chuveiro onde o despe carinhosamente beijando todo o seu corpo e, apesar de já haver tomado banho não se importa em fazê-lo novamente devido a companhia incrível do momento; Assim, com um punhado de shampoo ela lava suavemente seus cabelos e enquanto a água cai sob o corpo nu de Miguel ela lava suas costas até que, tomado por um ímpeto de desejo, ele não se contém e a possui com vigor ali mesmo; pode sentir o corpo dela implorando pelo seu amor e com sofreguidão sucumbem à intensidade do sentimento. Num vai e vem frenético pode-se ouvir a respiração pesada de ambos e os gemidos ao pé do ouvido, até que num suspiro mais acentuado, ambos se rendem ao prazer de se completarem e, por alguns minutos ficam ali, parados, sentindo o coração batendo forte...deixando evidente um ao outro o quando se amam e se querem.
Não obstante, após se secarem, tomam o rumo do quarto para, enfim terem o descanso merecido.
Delicadamente e de maneira um tanto sensual Helena começa a se vestir enquanto Miguel a observa sentado, ainda nu na cama.
- Nossa. Como você é sexy! - comenta ele.
- Nossa. Como você é exagerado! - rebate ela sorrindo e indo ao encontro dele e pousando serenamente um beijo em seus lábios.
Ele a toma em seus braços e a envolve lentamente.
- Eu te amo! - ele diz.
- Eu te amo mais! - ela responde enquanto suas mãos deslizam pelo corpo de Miguel, chamando para si de maneira sutil.
As intenções de Helena provocam reações imediatas, e a vontade de ser dele novamente, são de todo percebidas. Invadido pelo deleite de estar com a pessoa que ama e pode verdadeiramente lhe extrair o melhor; ele sorri, murmura em seu ouvido que ela é única, retira voraz o pouco de roupa que ela havia vestido e a domina com virilidade. Se amam de todas forma e maneiras possíveis, afinal, para eles a noite é algo que foi feito para isso, para receber os amantes e a lua iluminar seus corpos inundados de prazer, suados pelo contentamento de se sentirem um.
Adormecem exaustos e abraçados, sabendo que desta vez, é real o que vivem!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O mar se abriu


E o mar abriu, revelando por debaixo das águas agora suspensas em dois paredões, mais do que apenas terra, haviam ali escombros e barcos, ouriços e peixes que ainda tentavam respirar, havia a perspectiva de chegarem sãos, salvos a outra margem, de não se afogarem nem sucumbirem em meio a tantas coisas escondidas na terra que agora tomava lugar no que antes era um mar revolto.
O mar se abriu e agora havia um caminho a seguir, um caminho incerto, mas era melhor do que o estagnar vivido ate então. Se olhavam perplexos ainda sem acreditar naquilo, queriam seguir mas a imagem que vinha às suas cabeças era do mar se fechando novamente sobre eles. "La vai", pensaram se entreolhando, começaram a caminhada a passos largos mas com os corações apertados, venciam um passo após o outro aquela distancia que parecia muito maior que seu real tamanho em virtude do medo que os consumia, vez ou outra percebiam que estavam sob os domínios do mar ao ver algum animal marinho a se debater ou por alguma embarcação que conseguiam enxergar, isto lhes fazia tremer o corpo, arrepiava-lhes a espinha mas ainda assim, com medo, caminhavam.
Quando finalmente estavam próximos do fim da jornada, foi que perceberam que não conheciam a outra margem e que ela poderia ser idêntica a anterior tão cheia de problemas, traumas e perigos, ela lhe chamou atenção ao fato, mas ele sabia que na pior das hipóteses estavam caminhando, "retroceder jamais" pensou, segurou firme a mão dela e continuou a andando fingindo não ter escutado seus comentários, assim, meio contrariada, seguiu em frente por aquele novo caminho, hora amedrontada, hora sorrindo.
Ao pisarem em terra seca, na outra margem, ela lhe disse que seus problemas ainda os perseguiam, ela podia enxerga-los vindo pelo mar ainda aberto, ele apenas sorriu e pediu que ela não olhasse para trás. Começou a lhe mostras as diferenças daquele novo lugar, começou a mostrar que teriam tudo que precisassem para se manterem seguros e felizes, cuidava de cada detalhe para que ela esquecesse de olhar para o mar ainda aberto com os problemas marchando e clamando por sua atenção, ela assim o fez e no momento em que percebeu que estava segura, no momento em que teve a certeza de que seus problemas eram meras cartas de baralho sopradas pelo vento, tentando atravessar um oceano para impedi-lá de chegar a ser do tamanho que foi destinada a ter, o mar se fechou sobre eles, eliminado seu grito desesperado de atenção, e assim, em um abrir e fechar de olhos foram eliminados, sucumbiram a sua fé e a sua perseverança e agora ela podia seguir viagem, planejar sem o peso do passado, ainda não notava seu próprio tamanho, isto somente ele via, mas estava pronta, livre dos seus grilhões e agora ela iria voar.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Antes que o mundo acabe!


Disse adeus e atravessou a rua, hoje não iria para casa, hoje pegaria o mesmo ônibus que por tanto tempo foi seu destino, aquilo que há tanto ele tentou evitar. Mais uma vez ele voltava cabisbaixo a residência que nunca foi seu lar, mais uma vez tinha que admitir que fracassou.
No caminho pensava em tudo, no péssimo dia que teve, que quando ouviu o pedido dela já sabia o que vinha a seguir, só não imaginou que ela fosse caminhar tão rápido para o segundo passo, as palavras ainda marcavam profundamente seu coração, nem percebeu o curto caminho de volta, se sentia meio aéreo e quando deu por si estava pisando entre uma cor e outra na calçada. “Não é fácil regredir” pensou, “logo agora que as coisas iam tão bem”.
O elevador já o esperava quando adentrou o edifício, parou alguns minutos tomando coragem de abrir a porta e ao entrar teve que ouvir perguntas que ele não queria responder. Foi evasivo o quanto pôde, lembrou-se que mesmo estando triste pela manhã, ela não estava tão ruim como sua noite sabendo que havia perdido a certeza que tinha de estar ao lado daquela que amava. O whisky lhe aqueceu um pouco e permitiu que se sentasse para escrever o que sentia já que não havia com quem desabafar.
“O convés começou a baixar, preciso achar por onde esta entrando esta água antes que tudo vá a pique” retrocesso é sempre o início do naufrágio e ele sabia muito bem disto. Ela havia se desprendido de medos, dito que diria sim, que tê-lo a seu lado era tudo que ela queria, mas, do dia para a noite tudo mudou, ela teve medo. Ele pode ver seu antigo amigo se levantar enquanto trocava mensagens com ela, ela parou de responder e só voltou quando ele apareceu, ele não olhava-o à tempos mas fez questão de olhar em seus olhos com um sorriso irônico de quem havia se aproveitado de um instante de fraqueza para lançar a dinamite que há tempos procurava brecha para ser lançada, sorriso de quem tem a certeza da conquista, de que finalmente derrubou um oponente ainda que sua vitima nunca o tenha visto como tal.
Ele já não encontrava um motivo para acreditar em justiça divina, parecia que ela só existia quando era ele que errava, via como todo o canalha sempre se dava bem, como o mau sempre vencia, começou a perceber que não eram as pessoas o problema, ele nunca dava certo com ninguém então deveria obviamente estar errando em algum lugar comum. Olhava para o princípio do fim como quem observa a tempestade chegando ao longe, aproveitando a calmaria, observando o relampejar, querendo ficar o máximo possível abrigado aonde estava, sabendo que o mundo estava prestes a acabar.
E antes do fim do mundo ele queria beija-la o quanto pudesse, queria tocar seus lábios acariciar-lhe o cabelo e dizer que a amava, ainda que soubesse que é inevitável, ainda que não soubesse por quanto tempo ela iria ficar, só queria estar ali até o mundo acabar.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

ESTELA ESTRELA

Mais uma estrela acende no céu,
e se apaga na Terra.
Mais uma luz que achou um jeito
de estar com todos os olhos ao mesmo tempo.
Pra não perder a pose de bonita
foi mostrar ao céu que sua luz é rica
Linda ESTELA ESTRELA
Em meu coração guardo a luz e o carinho
de tuas palavras e de teu sorriso
Vejo a canção que animou tua ANDANÇA
e brilha em mim tua doce lembrança.
Tenho firme o presente do teu ensinamento:
Que importa a vida e não o julgamento,
Que exista harmonia em todo e cada momento,
Que riam todos juntos, pois ensinastes a união,
Que não há dor que resista a comunhão.
Pois por onde foi espalhou teu brilho
E não houve um que não quisesse saber qual era este teu caminho.
Sendo um pouco de todos e nunca de ninguém,
fez que todos fossem um pouco de ti
e que cantassem, pra você rir,
que querem ser seu par por onde quiseres ir!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Procura Terminou

João foi chegando lentamente, deixando acontecer de forma natural... uma troca tímida de olhares... uma leve investida temerosa... até que num ato ousado, como que regido por uma música inaudível que o impulsionava, se encheu de coragem e chamou Maria para sair. 
Dava para perceber nitidamente em seu olhar o receio do não e o nervosismo do sim; Ainda mais quando ela balbuciou um "vou pensar" e, mesmo ficando um tanto balançada pelo convite para um simples passeio no parque, ficou apreensiva pois por alto sabia quais eram as reais intenções do belo moço, um romântico inveterado.
Após ponderar algumas possibilidades e perceber que apesar de não estar pronta merecia sim se permitir, então aceitou.
Era uma belíssima tarde de sol e Maria via os lindos olhos de João serem inundados por um brilho que mesclava o reflexo dos raios solares com o lampejo de um forte sentimento contido, tornando seu olhar incrivelmente irresistível e profundo. Caminharam pelo parque envoltos por uma harmonia e uma intimidade crescente e, embora não se conhecessem há muito, era como se tivessem nascido um para o outro. Sentaram-se na grama verde e macia; Maria descalça sentindo o chão sob seus pés e o frescor da brisa tocando seu rosto, tentava se convencer de que tudo aquilo era real. Procurava inutilmente desvencilhar-se das belas palavras proferidas por João e das promessas que ele fazia, ela já ouvira tantas vezes sentenças vazias que a fizeram compreender e aceitar que "toda expectativa é passível de frustração₁". Maria buscava blindar seu coração para que não se ferisse novamente, haja visto que a chaga anterior nem havia sido sarada. 
Como se lesse seus pensamentos ou visse de forma evidente a sensação de medo através dos olhos dela, João prometeu-lhe o mundo e as estrelas naquela tarde. Disse ao pé do seu ouvido que ficasse tranquila pois tudo iria ser diferente à partir daquele momento, ele seria o bálsamo sob suas feridas e com muita paciência a faria entender que ele era o homem de sua vida, dando tudo de si para isso; porém antes mesmo que dissesse tais cousas, sem saber, dentro de si ela já começava a acalentar, com um pouco mais de segurança, o sentimento que nascia acanhado, com a função preencher a imensa lacuna que havia em sua vida. 
Tinham muito em comum e sentiam mutuamente que a vida os tinha preparado para aquele exato momento, para serem perfeitos um para o outro! 
Não tinham tanto tempo quanto gostariam, e o dia se foi com o decorrer da conversa. Uma aura fabulosa de equilíbrio os envolvia e desejavam intensamente que o tempo parasse para eles naquele fantástico pôr-do-sol; sob o qual se abraçaram e juraram silenciosamente em seus corações, amor eterno.


₁ N.E. Autoria de Igor Campos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Aquela noite


A noite as coisas sempre se tornam mais intensas e, em meio à um turbilhão de sentimentos, ela quis sua presença, quis que ele fosse a calma que ela precisava. Verdade que a forma do pedido não pedido gerou uma dualidade de sensações só dissipadas por seu olhar, aquele olhar de “que bom que você veio” misturado com a tristeza que a consumia.
Segurá-la em seu colo, dar-lhe carinho, cuidar de suas feridas, esclarecer dúvidas, algo que só o sentimento verdadeiro proporciona. A música, os beijos, o calor dela em seus braços e seu olhar dizendo que era ele a sua escolha, não há como descrever a quantidade de sensações correndo seu coração neste momento. A noite passava enquanto conversavam, seus olhos já viam dificuldade em manter-se abertos, levou-a para cama, mas a vontade de ambos em ter um ao outro não permitiria que dormissem, ao invés disto, tomados por esta tensão, tomados pelo sentir, entrelaçaram os corpos como quem quer tornar-se um, com aquela urgência que só o desejo pode causar.
O prazer era intenso mas ela queria mais e mais, a cada vez ela parecia mais hábil em recuperar as forças dele, variadas formas tornaram tudo mais forte e ele se sentia entregue. Sentiu-se seguro para contar-lhe seus sonhos, embora soubesse que tudo faz parte de uma construção e que ela ainda não estava pronta a realiza-los. O toque acendia as fagulhas do desejo e foi então que ela instigou seu lado B a toma-la pra si e ele a tomou, com uma força e uma fúria com a qual nunca havia tomado ninguém, ele pode ver que ela gostava e ansiava mais e quanto mais percebia isto, mais aquilo se fortalecia e mais ele deixava livre a fúria dentro de si para que o prazer dela fosse completo.
Finalmente dormiram, ele demorou um pouco mais, preferia observa-la e pôde perceber que ela realmente era tudo que ele queria, que era um homem de sorte por ter alguém como ela ao seu lado. Pela manhã, observou um sorriso contido no rosto dela e sentiu-se feliz por participar daquele momento, ela era cada dia mais dele e ele cada dia mais dela.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ela


Eu acordei, olhei pro lado, sabia que não era ela quem eu queria ali ...
Por que você está tão longe daqui agora? Por que toda essa imensidão de distancia que nos separa? Por que ela está aqui e não você? Será que você pensa em mim da mesma forma que eu penso em você? Será que você lembra de mim as mesmas boas recordações que tenho de e com você? Será que o fato de acreditar já é o suficiente para ter você do meu lado novamente um dia?
Lembro-me de nossas historias, dos nossos passeios, das nossas encrencas ... Lembro-me do dia em que você veio aqui pela primeira vez, sentamos no sofá e o assunto fluía cada vez mais, nossa sintonia estava cada vez mais afinada, fizemos de tudo, menos assistir o filme que alugamos ...
Eu não preciso falar muito para você me entender, uma simples troca de olhares já dizia muita coisa. Eu fazia algo que achava que era o certo e você falava que aquilo era exatamente o que você mais queria naquele momento. Cada passo, cada gesto parecia que havia sido dado para o outro, para o bem do outro e não para si mesmo. Sempre tivemos essa conexão!
Ela ... Ela está aqui ... Não sei o por que ela está aqui ... Queria estar com você, queria extinguir toda essa distancia entre nos ... Mas ela não permite mais ... Ela apareceu de repente, quando ninguém esperava e me deixou aqui, pensando em você, nas coisas boas que podíamos estar fazendo ... Mas não ... infelizmente é ela que está do meu lado...
Mas não quero perder as esperanças, eu sei que terei você do meu lado!
E quando esse dia chegar ... não importa a situação, não importam as consequências, será o dia mais feliz da minha vida.
Essa janela já ouviu tantas lamentações minhas, essa chuva que cai agora já está acostumada com a minha presença ali...
Fecho meus olhos, penso em você...
Aonde está você, minha linda?

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Felipe Dionísio Prestes


Em uma distinta cidade ao sul do país morava um jovem chamado Felipe Dionísio Prestes. Ele tinha vontade de realizar grandes feitos, o que demandava muito conhecimento e tempo. Porém o rapaz era apressado e esperava conquistar tudo o mais rápido possível.
Nosso obstinado jovem entrou para uma firma que realizava projetos de reparos que eram importantes para pequenas empresas e passou a ser o segundo setor, recebendo os projetos que vinham da recepção e decidindo se realizava ele mesmo o reparo necessário ou se repassaria aos arquitetos para realizarem o serviço. Ele ganharia uma quantia por cada projeto feito e logo no primeiro mês passou a realizar três vezes mais projetos que os seus companheiros de serviço. Seus companheiros que realizavam em média 10 projetos ao dia se viram desconfiados quando aquele jovem, recém chegado, passou a realizar 30 projetos no mesmo tempo. Um dia as canetas sumiram e só foram compradas novas no final do expediente, os colegas, desanimados, realizaram 3 ou 4 projetos com muito esforço, ainda assim, Felipe Dionísio Prestes conseguiu a impressionante marca de 23 projetos.
Um dia, um dos colegas do rapaz descobriu um projeto que havia sido dado como encerrado por ele sem alterações e no mesmo dia ainda encontrou outro. A notícia se espalhou, o paladino estava encerrando projetos sem ao menos realizar as alterações necessárias, no mesmo dia uma das moças da recepção veio à um superior dele e trouxe uma pilha de projetos não alterados que os clientes tinham devolvido para que fossem desta vez realizados corretamente. Ela apontou a assinatura de Felipe Dionísio Prestes e citou que o jovem era um irresponsável.
Conforme as especulações cresciam, o rapaz se sentia cada vez mais ofendido, ele vociferou à todos que não havia realizado nenhum processo fora do padrão. Então, todos que falaram contra o rapaz foram chamados à uma reunião onde o superior citou a eles que deveriam se espelhar nele para realizar os projetos pois a empresa também recebia por projeto realizado e ele por consequência, citou que o rapaz estava certo e que nenhum procedimento fôra realizado fora do padrão.
O jovem obstinado logo foi promovido após premiação por seu serviço inigualável e, assim que pode, conheceu o proprietário da empresa e conseguiu dele o lugar do superior que o protegera. Com o novo salário Felipe Dionísio Prestes pode então realizar seu sonho de fazer doutorado. Hoje seus feitos são conhecidos em todo lugar e por onde passa é saudado por todos exatamente como o que está escrito na porta de seu escritório: “Dr. F.D.P.”

*qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência

domingo, 16 de setembro de 2012

A tarde

Era 15 hs, o sol escaldante impetuoso gerava um calor quase insuportável. Faltava ar, mas ele estava lá, com um imenso frio na barriga, com a ansiedade que só ela poderia lhe causar. É dia dela, e ele tentou observar com cuidado cada detalhe do que havia preparado embora soubesse que alguns detalhes ele iria esquecer. Tentou preparar a perfeição, mesclada com à simplicidade.
Alguns planos não são simples e sempre há imprevistos no caminho. A chegada dela foi um alento ao seu coração que batia rapidamente e ansioso. O beijo quente que deram selou o desejo contido em ambos de tornarem aquilo realidade. A tarde passava e eles abraçados hora conversavam, hora percorriam com desejo o corpo um do outro. Nada os atrapalharia simplesmente porque não havia nenhum outro lugar onde quisessem estar.
Ela tinha medo de se entregar ao sentimento, mas seus olhos enquanto ele a beijava, já mostravam-na entregue. Ele estava feliz em tê-la em seus braços pela primeira vez, não havia nada que ele quisesse mais que aquilo.
O tempo passa depressa quando se está imerso em felicidade e mais rápido do que podiam imaginar a noite veio e ela precisava partir. Ele a acompanhou tentando prolongar um pouco mais a estada ao lado dela, queria que ela não fosse, mas era necessário. Despediram-se com um beijo e um abraço demorado, sentindo um o coração do outro. Ela saiu caminhando, mas antes que ele não pudesse mais vê-la, ela mandou-lhe um beijo e sorriu com aquele sorriso que o fazia achar que o mundo era um lugar perfeito.
Ele veio calado o caminho de volta, pensando nela, saboreando em si cada momento vivido naquela tarde inigualável. Como são as coisas do coração, não se sabe o que vem amanhã, só que o hoje foi maravilhoso e que a presença dela faz os dias dele serem melhores.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Acorde


Eu sinto esse acorde.
Eu sinto esse acorde como sinto o ultimo suspiro de minha vida.
Alias, é o ultimo suspiro de minha vida. Uma vida dedicada às artes, uma vida dedicada a musica, uma vida dedicada a não ser apenas minha, mas de todos! Fiz tudo para que o que eu fizesse não agradasse apenas a mim, mas um mundo ao meu redor. Para uma festa de igreja fervorosa, para uma apresentação de escola animada, para o seleto público dos restaurantes grã-finos. Começa assim, logo vem os grandes shows, os CDs, os prêmios, as parcerias, as músicas de sucesso ... Logo, todos sabem seu nome, todos sabem quem você é, todos querem sua presença, todos querem você bem. Sua presença é ilustre, esperada! Jovens ficam eufóricas quando te vêem, autógrafos, abraços, fotos, algumas juras de amor, muitas risadas. Faz valer a pena todo o trajeto até aqui, o que não é fácil, estudo, treino, estudo, ensaio, estudo, quebrar a cabeça, estudo, começar de novo, estudo, fazer de tudo para dar certo. Então você chega aqui, no estrelato!
É engraçado como você se torna importante de uma hora pra outra, com apenas uma musica, com apenas uma aparição todos sabem seu nome, todos te conhecem, todos já viram seu rosto pelo menos uma vez. É engraçado os jantares em sua homenagem, é engraçado os prêmios que você recebe, muitas vezes sem nem saber o porquê, as vezes, o premio vem da sua música mais sem inspiração, a música mais improvisada que você criou por falta de uma ideia boa.
E aqui estou eu hoje, sozinho, deitado na minha cama, ninguém mais se lembra quem eu sou, ou quem eu fui. Ouvem minha musica e perguntam: “Será que ele está vivo ainda?”, mas se esquecem de perguntar pra mim qual a minha inspiração no momento da musica, esquecem-se de ver que a pessoa por traz daquilo tem uma vida. Bom, estava tendo até esse momento, fecho meus olhos, respiro pela ultima vez, sinto o ultimo acorde, a ultima nota que o coração toca; e assim, o Brasil perdeu um de seus grandes nomes da música.

terça-feira, 26 de junho de 2012

O Castelo de Supplice

A escuridão tomava conta da pequena aldeia de supplice, a única luz vinha da fogueira em torno da qual todos dançavam. O clima festivo se dava pela boa colheita obtida aquele ano, o vinho era servido em abundância e a comida era farta.
Entre uma dança e outra, ouviu-se o som de um sino tocado ao longe, vindo do alto de um morro onde quase imperceptível jazia um castelo. A feição de todos se tornava mais tensa a cada nova badalada, todos correram, fecharam as portas e se esconderam aonde era possível; ao longe se ouviu um grito seguido de um rosnado ameaçador, então o silêncio e o som do mastigar de um animal. Quando o dia amanheceu fez-se a contagem dos sobreviventes, a família do morto estava desconsolada, mas sabia que nada era capaz de mudar o que havia acontecido. Hamilton, um jovem inglês que estava no local a passeio, tentou entender o que se passava e porque não havia uma reunião de homens corajosos para ir a caça do animal. Um dos anciãos contou-lhe que por vários anos tentaram e nenhum homem voltou com vida das expedições, até que um dia, quando a aldeia estava quase dizimada, o estranho morador do castelo acabou domesticando o animal. As vezes ele escapava e era isto que acontecia, mas desde então as mortes eram muito poucas e conformar-se com a própria sorte era o que de melhor se podia fazer. O animal sempre sabia quem era a vitima da vez e não havia porta capaz de detê-lo.
Hamilton não concordava, pois de onde vinha os problemas exigiam solução e por isto mesmo decidiu-se por ir até o castelo enfrentar tal criatura e libertar o povoado. O ancião alertou-lhe que não seria uma boa ideia, mas ele não deu ouvidos e seguiu.
O sol estava alto no céu quando ele chegou aos grandes portões da propriedade, um dos lados estava caído o que deixava livre a passagem de quem ali chegasse. Pensou que era natural que o animal escapasse com tamanho descuido, tentou observar pelas janelas para dentro do castelo que mais parecia uma ruína sem vida, mas nada pôde enxergar. Puxou as pesadas argolas de ferro que estavam penduradas na porta e soltou-as. O barulho do ferro batendo na madeira foi seguido por um latido forte e pela voz de um homem que pedia calma ao animal.
- Perdoe-me a demora, meu cão estava um pouco agitado e precisei conte-lo. Diga-me! Em que posso ajuda-lo?
- Sou Hamilton, comerciante inglês, estava na aldeia ontem a noite.
- Imagino que não tenha sido uma experiência agradável.
- Não, e vim aqui para libertar aquele povo.
- Você não sabe o que diz, vamos, pare com esta besteira enquanto ainda está vivo.
- Um animal não pode fazer o que bem entender, e se você não pode conte-lo darei um jeito eu mesmo.
- Ninguém pode conte-lo, nem mesmo eu. O ódio só o torna mais forte e é por isto que o mantenho aqui o máximo possível, pois nem eu nem ele encontramos motivos para ódio isolados aqui.
- Não entendo.
- Todas as expedições falharam porque não o entendiam, eram compostas por homens cheios de ódio em seus corações, ele os sente e se alimenta deles. Sua força que já é gigantesca aumenta mais toda vez que sente o ódio em alguém. Então o encontrei na mata, não o conhecia, não sabia de seus atos, apenas cuidei de algumas feridas e ele passou a me seguir, desde então parou de atacar o povoado. Demorou muito até eu perceber que nenhum muro poderia conte-lo, então guardei minhas lembranças em um baú velho, pois percebi que ele ficava mais agitado conforme eu me exaltava pelos sentimentos que aquilo trazia e que ter as lembranças à mão era uma maneira de liberta-lo. Notei que ele só sai quando sente que há alguém tomado de ódio nas redondezas, Então pus um sino no castelo, para avisar aos moradores quando ele sai daqui, muito embora não haja nada que possa ser feito.
- Eu o farei - bradou Hamilton - onde ele esta?

Então o animal pulou por detrás da escada que levava ao segundo piso, o senhor do castelo tentava acalma-lo enquanto o ódio nos olhos de Hamilton era substituído pelo medo, num descuido, o homem se desvencilhou e correu o quanto pode, até desaparecer daquelas terras. O animal, em parte contido pelo seu bem feitor, em parte por não suportar a presença do medo desistiu de atacar o viajante.
Por todo lugar onde passava, Hamilton contava a história da feroz criatura que vivia escondida em um castelo e se alimentava do ódio das pessoas, um ser tão terrível que não podia ser contido, somente respeitado, pois na presença de um sentimento tão destrutivo ele se libertava e tornava-se ele mesmo a destruição.

by Arthur Lingard

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A flor


O tribunal estava lotado, todos com caras de ódio observando àquela que tinha cometido tão grave crime.
A promotoria se esforçava em demonstrar a gravidade do ato cometido e a defesa em explicar que o ilícito era apenas uma tentativa de imprimir o lúdico a pessoas tão desprovidas de beleza em seu dia a dia.
As senhoras mais exaltadas ressaltavam a importância de uma punição severa que demonstrasse que tal atitude jamais seria tolerada naquela cidade, seria uma maneira de mostrar a todos que por ali passassem, que ali era um local onde a família era respeitada e que qualquer um que tentasse repetir aquela condenável atitude teria o mesmo destino.
Testemunhas detalhavam enfaticamente o ocorrido e tentavam demonstrar o quanto aquilo era inescrupuloso e que a ré não demonstrava o menor remorso pelo crime cometido. Ela por sua vez parecia estar em outro planeta observando a arquitetura do lugar, hora assustada, hora achando engraçado a ênfase na fala daquelas pessoas.
Então o juiz chamou a criminosa ao banco das testemunhas para dar a sua declaração, o advogado de defesa protestou, mas foi inevitável.
O promotor logo perguntou o porquê de tal ato e a garota respondeu que todos pareciam tão sérios e bravos naquela cidade, que ela pensou que pintar uma flor na calçada talvez arrancasse alguns sorrisos e melhorasse a vida dos que ali viviam. Uma mulher se levantou e disse que pichações não eram aceitas por ali e que este tipo de ato devia ser enfaticamente reprimido, pois mesmo que por um motivo nobre, não reprimi-lo seria automaticamente dar um recado a outros pichadores de que poderiam se safar.
A garota então disse que não esperava que todos se irritassem daquela maneira e que se seu desenho era tão ofensivo ela mesma o limparia. Ela ainda citou que havia se mudado recentemente, mas achava que as pessoas daquele lugar precisavam de mais amor pois estavam o tempo todo preocupadas com a aparência de suas casas e se esqueciam de dar valor as pessoas, que são a única coisa que realmente importa. Terminado de dizer isto ela deu uma rosa ao promotor e um beijo em sua bochecha, pediu desculpas e prometeu não mais repetir sua atitude tão desprezível.
O juiz se emocionou com o depoimento e decidiu inocentar a garota de 3 anos que tinha cometido o grave crime de pintar uma flor na calçada com seu giz de cera e por tal motivo irritado os habitantes daquela pequena cidade ao sul da Califórnia.

domingo, 27 de maio de 2012

A Ilha dos Sentimentos - de Sílvio Anjo.

Era uma vez uma Ilha onde moravam todos os sentimentos:
a Alegria, a Tristeza, a Vaidade, a Sabedoria, o Amor e outros ...
Um dia avisaram aos moradores da Ilha que ela seria inundada. Apavorado, o Amor cuidou para que todos os sentimentos se salvassem.
Ele disse:
- Fujam! A Ilha será inundada!
Todos correram e pegaram os barquinhos para irem até um morro bem alto. Só o amor não se apressou, amava a Ilha e queria ficar um pouco mais ... quando já estava se afogando, o Amor gritou aos outros sentimentos clamando por socorro.
Vinha vindo a riqueza e ele disse:
- Riqueza me leva com você?
– Não posso, meu barco está cheio de prata e ouro, aqui não tem espaço para mais nada!
Passou a Vaidade e o Amor novamente gritou:
- Vaidade, posso ir com você?
– Não, você vai sujar meu barco novo!
Passou a Tristeza e mais uma vez o Amor clamou:
- Me leva com você?
– Até queria te salvar e te levar comigo para um porto seguro, mas estou tão triste que meu barco está cheio de lágrimas, não cabe você!
Passou a Alegria, mas ela estava tão feliz que nem ouviu o Amor gritar. Já desesperado e achando que iria ficar só, o amor começou a chorar. Passou a sabedoria e viu o amor chorando.
– Amor não fique assim ... Não se desespere, meu barco está cheio de livros, mas ainda tem o barco da esperança, acredite nas palavras da Sabedoria, a esperança te salvará!
Então passou um velhinho olhando e falou:
- Sobe Amor ... eu te levo!
O Amor ficou tão radiante que esqueceu de perguntar o nome do velhinho! Por fim, chegando no morro alto, o amor encontrou a Sabedoria e perguntou-lhe:
- Aquele velhinho que me trouxe até aqui são e salvo? Era a esperança?
– Era o Tempo! - Respondeu a Sabedoria.
-O Tempo? Mas por que só o tempo me trouxe até aqui? E a esperança? A esperança não pode morrer!
A Sabedoria respondeu:
- O tempo te salvou, mas usando o barco da esperança, a esperança está viva dentro de ti, mas só o tempo é capaz de reconhecer um grande Amor!

Texto Original: http://semtalentoparanada.blogspot.com.br/2011/12/verdadeira-historia-dos-sentimentos.html

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A construção

Havia uma família que tinha uma bela casa, cada tijolo havia sido colocado com muito cuidado e cada passo da construção estava guardado ainda na memória!
Adoravam a sua localização, tinham alguns problemas de umidade, precisavam de mais um quarto, mas gostavam tanto daquela casa que não conseguiam fazer as reformar com medo de mudar a história da construção daquele lugar obtida com tanta luta.
Vieram as chuvas algumas arvores caíram sobre a casa. Técnicos vieram analisar a construção e constataram que era hora de demolir a casa, pois não resistiria muito tempo. A família viu ruir seu sonho com profunda tristeza e houve muito choro. A dor era imensa, pois as memórias estavam ainda postas dentro deles.
Após perceberem que era inevitável, a família finalmente cedeu e a casa foi enfim derrubada ... era o fim de um sonho, era pior que a morte! Tinham para onde ir mas permaneceram acampados ali, olhando a ruína do que sobrou de seus sonhos,   parecia que queriam protelar o martírio que lhes consumia.
Após um tempo de luto remoendo a dor e relutando em mudar-se, alguns vizinhos se compadeceram e decidiram ajuda-los com materiais e mão de obra. Estar no terreno lhes trazia boas lembranças e dia a dia, tijolo por tijolo, foi sendo construída uma nova habitação, que levava todas as boas experiencias vivenciadas na antiga casa, somadas as experiências novas que viviam ali, na nova construção.
A casa foi erguida melhor e mais moderna, mais adequada as novas necessidades deles, pois agora os moradores conheciam os pontos que mereciam cuidado, os que precisavam de mudança e poderiam finalmente fazer as melhorias necessárias.
Ao final da construção, perceberam que haviam feito uma casa muito mais forte e muito mais bela do que já haviam sonhado em ter e que agora viveriam confortavelmente em um lugar que não iria mais ruir.
Perceberam que as vezes a gente se agarra ao passado e aos sonhos que almejou e se esquece de olhar para o futuro e adaptar nossos sonhos permitindo que algo novo preencha-nos com os ventos bons da mudança. A história precisa ser respeitada, mas até uma tragédia as vezes é necessária para nos fazer seguir em frente, rumo ao que está preparado para nós.

sábado, 5 de maio de 2012

O Reencontro.

Ele se aproximou devagar, há tempos que não se viam e teve medo da reação dela. Ficou um tempo observando ao longe, na verdade ele a admirava. "Há quanto tempo não a vejo? E ela está ainda mais linda".
Eram o casal mais apaixonado que alguém podia conhecer, mas ela recebeu um convite para estudar no exterior. Com muito custo a convenceram de que seria bom para ela e durante todo este tempo ambos ficaram separados, conversando pelos meios eletrônicos a que tinham acesso.
A correria do dia a dia fez com que os contatos fossem cada vez menos frequentes e ela teve dúvidas, sentiu carência e se permitiu namorar um outro rapaz.
Ambos concordaram que era melhor a liberdade que a mentira, então ele também viveu sua vida, mas nem por um instante deixaram de lembrar um do outro. Ela o esperava ansiosamente, tinha passado todos estes meses imaginado este momento.
Demorou a perceber que ao longe naquele terminal, ele a observava. Quando ele se aproximou, caminhava olhando-a fixamente, tentando intuir que pensamentos passavam por sua cabeça naquele momento somente lendo-os em seu olhar. Ela por sua vez não sabia o que fazer com as mãos, estava sem jeito até para ficar parada, imaginava de que maneira iria cumprimenta-lo. "Melhor esperar e ver o que ele faz". 
Quando ele finalmente se aproximou, ela abaixou levemente o rosto com ar de quem espera a aproximação, ele acariciou seus belos cabelos com a mão direita e se permitiu afagar-lhe o rosto. Ela levantou o ombro pra perto do rosto, pressionando a mão dele, como quem quer aproveitar um pouco mais daquele instante único de um carinho sem igual.
Ele a olhava nos olhos e via neles um brilho único, brilho que ele não via em nenhuma outra mulher. Escorregou a mão direita para a nuca dela, aproximou seus lábios lentamente e a beijou devagar, conforme ela se soltava ele a puxava um pouco mais para perto, como quem quer sentir alguém com mais intensidade. Neste momento os dois puderam sentir a adrenalina que corria seus corpos e aumentava a intensidade do beijo, aquela que poucas pessoas são capazes de provocar.
Seguiram abraçados, sentindo em si o coração do outro, trocando juras de amor ali, naquele terminal, por um bom tempo. Ela dizia que não iria mais ficar longe dele e ele falava para ela sobre o quanto a amava e sentira sua falta.
Aos passantes as reações eram imprevisíveis, alguns se indignavam com a cena que viam, outros olhavam com desejo e havia ainda aqueles que sorriam com os olhos ao ver um amor verdadeiro em um mundo tão cheio de amores de brinquedo.
Eles teriam um dia atarefado até que chegasse a noite e pudessem finalmente matar a saudade que os consumia, mesmo assim pareciam querer prolongar mais e mais aquele instante que preenchia seus corações tão cansados da dor da ausência, ausência esta, que só conhece aquele que sabe quem é este tal de amor.

A Menina e o Bonsai

A menina foi levada para comprar seu primeiro cachorro, os pais acharam que como toda criança Ane merecia ter um amiguinho e ela realmente queria, mas antes de sair de casa sua mãe roubou um pouco da infância dela.
Ela disse que Ane iria ganhar um cachorrinho, mas não seria uma coisa só boa, seria uma coisa ruim e ela não gostaria de sair de casa na chuva para ver se não faltava algo para o cachorro ou de ser suja por ele quando iria sair para passear. A mãe de Ane teve a capacidade de dizer pra ela que um dia o cachorro ia morrer e todo amor que ela depositasse no cachorro iria se transformar em dor e ela a carregaria para o resto da vida.
Ane já saiu de casa esperando para encontrar com o bichinho que iria fazer com que ela sofresse para sempre. Antes do carro começar a andar ela teve uma ideia: "eu vou comprar uma árvore, ouvi dizer que elas duram centenas de anos, ela viveria mais e o sofrimento seria dela".
Virou para a mãe e disse que não queria mais o cachorro, queria uma árvore, a mãe estranhou, disse que queria saber o porque e a menina pensou que sua mãe só podia estar brincando já que ela mesma à havia prevenido do mal que seria ter um cachorro. Depois de conversarem um pouco chegaram a conclusão de que a única árvore que ela poderia ter seria um bonsai. Quando chegaram à loja, ela foi olhando os bonsais e pensou: "pegarei um bem novo, assim ele será criança como eu", ela se ajoelhou na frente do mais barato de todos e disse:
- É esse aqui!
Seus pais disseram que sim e ela falou no canto do ouvido do bonsai:
- Terás que ser um grande amigo, pois será meu amigo a vida inteira.
Não se sabe se aquele bonsai era especial ou aquelas palavras eram mágicas, o que se sabe é que ele abriu os olhos e fez o sorriso que qualquer pessoa que ouvisse isto faria, mas fechou rápido, pensou que os amigos já tem que ser amigos pra quererem ser amigos pra sempre. Mesmo assim gostou muito de ouvir aquilo porque de algum modo pessoas  passavam por uma vida inteira sem ouvir essas lindas palavras.
Ela o levou na mão e toda vez que ele espiava estava ela a olhar-lo e sorrindo ele pensou: "eu já gostei dela"
Ela o colocou na sala, na única janela da casa que recebia as primeiras luzes do dia. Durante toda primavera ela deu a ele todo o carinho do mundo e veio o verão e no final do verão ele decidiu que ia falar com ela, afinal, ela poderia saber que ele não era uma árvore normal.
Enquanto pensava nisso ele olhou para fora e viu a primeira folha de outono começar a ficar marrom, ele pensou que um dia alguém havia passado por ali e dito que o outono e o inverno serviam para a natureza ficar menos bela e darmos mais atenção às pessoas, ou seja, ela o amaria menos e deixaria de dar-lhe atenção quase meio ano. Então ele começou a pensar no que faria para ela não abandona-lo, pensou em ser uma árvore de frutas, mas lembrou que não podia ser uma já que ele não era uma árvore. Depois pensou que podia ser uma árvore de natal, cheia de luzes, mas ele lembrou que faltava mais de meio ano para o natal, pensou que poderia se fantasiar de palhaço, "No dia em que foram no circo ela voltou muito feliz, sei lá, quem sabe de boneca?  Não, isto não".
Enquanto pensava o dia seguinte foi chegando e ela acordou, olhou para e perguntou ao vê-lo com seus galhos baixos:
- Por que tu ta tão triste?
Ele sem pensar respondeu:
- Acho que não poderei ser um bom amigo no Outono, minhas folhas vão cair e ficarei feio.
Ela nem prestou atenção ao que o bonsai estava falando, só o olhou e disse:
- Que tipo de amiga eu seria se não fosse tua amiga nas épocas que mais vais precisar de mim?
Ele sorriu e os dois seguiram com sua amizade como toda linda amizade deve ser, linda no verão ou no inverno, quando estamos cheios de vida ou meio murchinhos e sem folhas.

Autor: Téo

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Conto Curitibano

A poesia exalava de meus dedos e eu estava no ônibus, como sempre! A cidade era bela, onde houvesse tristeza ali havia uma flor e até onde há guerra ali também há a paz.
Nesta cidade vejo muitos estilos, de tudo um pouco, eu deveria ter dito.
Aqui sempre há um sol, mesmo que fraco para que em nenhuma estação falte um pouco de brilho. Aqui também há chuva, em qualquer lugar, pra que nunca se tenha tanta sede que não se possa saciar.
O frio, pra quem gosta de arrepios e o outono silencioso, pro vento poder escutar.
Nela não se mora, se tem um lar ... geometricamente ela é toda "regular", mas pensou também em todos os momentos que a vida podia causar!
Posto silencio e inquietude, fale apenas se quiser falar e o seu silencio falará pra você bem alto e apenas o vento virá conversar, embora ele também saiba passar morto se assim o desejar.
E se quiseres as árvores também sabem falar.
A Europa brasileira se considera meio alheia mas a música continua.
O clima ao que se der, cabe só a você permanecer de pé.
Sinto muito se encerro aqui o conto, é que acabei de chegar no meu ponto.

Meueu

Naquela enorme biblioteca silenciosa e vazia se encontrava Meueu em mais um dia de trabalho tão vazio quanto a biblioteca e a sua alma. Organizava antigos livros de ocultismo quando derrubou um pesado volume no chão. Parou por um instante a observar o fato com alguma preocupação, em todos estes anos de trabalho nunca derrubara um único livro. Desceu as escadas em que estava e abaixou em direção ao livro no chão. Na página aberta estava escrito em letras grandes “Quem é você? O que está fazendo aqui?”. Meueu levantou os olhos e mirou a extensa biblioteca sem um único pensamento na cabeça. Baixou os olhos novamente e leu na seqüência um começo de texto que dizia: ”Quem não se conhece não é capaz de enxergar a realidade, vive sob a ilusão e mareia seus olhos pelo vazio de significado em que sofre sua alma”.
Meueu carregou o volume aberto com as duas mãos e colocou-o em uma mesa próxima da varanda a qual dirigiu-se e de onde olhou o horizonte detidamente por algum tempo. Logo que os pensamentos lhe voltaram pensou, “eu vejo a realidade”, e voltou para dentro para continuar seu trabalho.
Ao passar pela mesa viu que ao lado de seu livro estava seu insuportável colega de trabalho, que ao ver o desgosto no rosto de Meueu expressou com ironia :
- Veja se não é o Grande Meueu saindo da toca! Já se cansou dos ratos que acompanham sua laia e consomem sua vida? Será que é chegada a hora do grande superior se misturar com o povo,ou ainda não está pronto para ver que não é tão superior assim?!
Meueu levantou os olhos e tomou seu livro pela mão, fechando-o sem interesse levou-o de volta à estante. Desgostoso por encontrar Tirano resolveu ir até a cozinha tomar um café, lá encontrou Raíze comendo bolachas e lembrou-se que não comia nada à muitas horas e seu estomago roncou. Ao ver os olhos compridos de Meueu  sobre o que comia Raíze tomou do saco de bolachas e ofereceu um pouco a ele. Meueu pegou o pacote e começou a comer, mas o sabor lhe agradava tanto e tinha a barriga tão vazia que acabou devorando todo o pacote sem dar-se conta de que não o dividira com a dona. Raíze que se deteve observando-o durante o devorar de suas bolachas olhou-o no fundo dos olhos como se expusesse o do âmago da terra e disse:
- Meueu , a gula de sua mente degluti a verdade de sua existência com tal avidez que tu não és capaz de ver a tempo o que está inserindo em sua alma. A impulsão de sua gula é tamanha que és capaz de expelir uma pedra filosofal que tenha ingerido sem apropriar-se de um único dom dela, sem nutrir-se de suas verdades tal qual se valor não tivesse. Perde seus verdadeiros presentes pelas falhas de tua mente.
Novamente enraivecido pela interação com as pessoas, afastou-se rapidamente dali. Porém, como as palavras dela não lhe fugiam a memória perguntava-se o que seria a tal da pedra filosofal, dirigiu-se a procurar num índice enciclopédico, acabando com um volume na mão em que lia sobre a pedra tão almejada pelos alquimistas para transformar qualquer metal em ouro. Enquanto lia sentiu sutilmente que alguém se aproximava, levantou os olhos e viu alguém que não conhecia olhando pra ele com espanto e dizendo em alarma:
-Meueu aquele que pergunta adentra a maldição de buscar a resposta e perder a inocência, padecer dos desígnios da consciência. Sem saber reverter o caminho do conhecer afoga-se no mar das descobertas que calam a possibilidade de não serem mais vistas.
Ao concluir as palavras saiu por um corredor. Atordoado Meueu procurou seguir-lo, mas viu-se no centro da biblioteca, sobre um símbolo da rosa dos ventos que havia no chão. Olhou para a esquerda e espantado quase perdeu o som da fala. Aquele que seguira, agora era visto como um espelho, o qual ele apontou e vendo-se disse, quase sem voz, “meu eu!”. Olhou para o lado oposto onde estava Tirano, o mesmo se passou e ele disse “meu eu!”. Virou seu rosto para frente, Raíze saía da cozinha,viu de novo seu reflexo e repetiu: “meu eu!”. Com o coração acelerado virou-se para trás e viu o caminho da porta de entrada, por onde passara todos os dias por tantos anos. Saiu para a rua e viu o mundo pela primeira vez. 

Um conto de Raquel Kucker Martins

domingo, 29 de abril de 2012

Amanda


As estações passam e modificam a vista aos amantes da natureza, mas naquele palacete no batel, a vista era belíssima a qualquer dia do ano. Porém algo estava errado, uma jovem, cansada das desilusões da vida, da rotina, das coisas que fazia e das que deixava de fazer.
Amanda era belíssima, beirava os dezenove anos, tinha tudo que uma garota da sua idade poderia querer, mas algo lhe faltava e naquela tarde, ela estava debruçada no parapeito da enorme sacada de seu quarto com ar de fatigada, parecia uma bela pintura a quem olhava-a de fora. Observava as belas árvores de seu quintal, sem folhas nesta época do ano, imaginando que tipo de sentimento era aquele que tomava conta dela, que ausência estranha lhe corroia por dentro e fazia imaginar o porque de estar ali parada.
Tinha amigas apenas na vizinhança e as saídas ao shopping já não preenchiam mais seu tempo como antes. Amanda queria algo novo, queria um pouco de vida, a vida que não tinha, a vida que via além dos grandes portões da propriedade em que morava, estampada nos rostos das pessoas que passavam na rua, a vida que via nos filmes e novelas da TV, ao invés disto, estava lá, entediada, presa em sua masmorra pessoal sem saber nem mesmo que tipos de sentimentos passavam em seu coração.
A noite reservava um jantar de gala, “mais um jantar enfadonho onde verei as mesmas pessoas dizendo as mesmas coisas de sempre”, inventou uma indisposição e decidiu ficar em casa, já ia se arrumando para dormir quando ouviu uma freada seguida de um estrondo. Foi a sacada observar e viu um veículo todo amassado contra um poste em frente ao palacete, caminhou até o portão mais por curiosidade, já que havia muitas pessoas atendendo o rapaz que parecia não ter se ferido. Ficou ali, observando aquela cena diferente à seu dia e começou a conversar com algumas pessoas,  jovens se preparando para ir a um bar ali perto, que pararam para ver se ninguém havia se ferido. E foi assim, despretensiosamente que a moça que viu uma amiga em Amanda, a convidou para acompanha-los.
A jovem se arrumou depressa e foi de carona no carro da mais nova amiga, não era seu costume sair e tão pouco seus pais permitiriam, mas eles não estavam em casa e ela precisava de um pouco de adrenalina. No bar, a moça se divertiu, sorriu, foi cortejada e chegou a beijar um rapaz, mas tão pouco era aquilo que lhe interessava e logo ela voltou para pista dançar. Permaneceram no local por algumas horas e depois decidiram ir a outro lugar.
Quando já retornavam o carro foi parado por policiais que averiguavam a documentação enquanto Amanda desceu por um momento, nunca tinha visto uma abordagem policial de perto e achou interessante todo aparato utilizado naquela blitz. No carro ao lado, sentado no capo estava um jovem que chamou a atenção dela, ela era uma moça tímida, mas resolveu se aproximar e puxar conversa enquanto aguardavam o termino da averiguação. Trocaram telefones e seguiram cada um seu caminho.
A jovem que dirigia resolveu comprar cigarros e qual foi à surpresa de Amanda ao ver aquele jovem parado no mesmo posto. Enquanto a amiga esperava na fila da loja de conveniências, ela voltou a conversar com o rapaz que aguardava o frentista abastecer.  O dia já começava a amanhecer quando ela chegou em casa, ficou surpresa ao não ver seus pais que chegaram logo depois.
O rapaz ligou no dia seguinte, e no outro, e no outro, até que decidiram finalmente sair. Ela não tinha grandes esperanças de um romance, queria apenas que o momento em que estivesse com ele fosse bom, mas algo tinha mudado dentro dela, uma só noite lhe mostrou que ela poderia fazer diferente e se tornar senhora de sua vida e que a decisão por fazer algo tinha mexido com ela. Amanda já não sentia mais o vazio que tanto a incomodava, agora era apenas ansiedade, mas uma ansiedade boa de não saber o que esta por vir, mas de saber que finalmente, alguma coisa mudou. Também percebeu que cada escolha daquele dia, mesmo as que pareciam tão insignificantes, tinha contribuído para tornar aquela noite única e para lhe mostrar que havia outro caminho, com outras pessoas e que ela seria mais feliz, se ela se permitisse viver.

sábado, 28 de abril de 2012

A parede torta!

Em 1980 um famoso médico americano foi trabalhar em um vilarejo ao sul da Prússia. Ele queria ajudar algumas pessoas em uma terra isolada e carente de recursos da medicina, queria também ensinar um pouco do que sabia e aquele lugar formado de pessoas simples parecia o ideal.
Hank acordava às quatro da manhã, quando todos ainda estavam dormindo e fazia silencioso a caminhada até o consultório que ficava no outro lado da vila. Fazia sempre o mesmo caminho e sempre andava sozinho. A cabeça do médico estava o tempo todo nas consultas a realizar e nas possíveis curas de pacientes que o tinham como ultima esperança, pensava também que ainda não tinha conseguido ensinar nada a ninguém e já estava ali há dois meses.
Foi um tropeção que mudou seu destino, uma pedra qualquer mal posicionada, Hank nem chegou a cair, mas voltou a realidade. Percebeu que tinha que prestar mais atenção ao caminho e acabou por notar a beleza e simplicidade das construções daquele lugar, todas sem muros nem cercas inspirando liberdade e mostrando a confiança daqueles cidadãos em seu próprio povo.
Havia uma bela casa, tinha ares de ter pertencido a alguma família grande, a madeira estava um pouco envelhecida e a tinta já sentia os efeitos da exposição constante ao sol. Na parede da sacada havia um quadro com uma foto em preto e branco emoldurada de uma bela mulher que aparentava seus vinte anos.
O fato é que Hank era metódico, aquele quadro estava torto e ele desviou seu caminho para consertar a posição. Subiu devagar os três degraus da entrada, a madeira já desacostumada a visitas rangeu quando ele pisou sobre ela. O médico pôs o quadro no lugar e seguiu seu caminho.
Chegou ao consultório satisfeito com a façanha que havia realizado. Quando passava em direção a sua casa para almoçar, percebeu o quadro novamente torto e novamente arrumou a posição do quadro, na volta ao consultório a cena inusitada se repetiu e na volta para casa a mesma coisa. Hank era insistente e todos os dias arrumava a posição do quadro nas quatro ocasiões em que passava por ele, até que decidiu descobrir quem deixava aquele quadro torto. Arrumou a posição do quadro e ficou a espreita, um casal passava pelo local percebeu o quadro simetricamente bem ajustado e o rapaz logo alterou a posição para que ficasse torto. E assim se seguiu o dia todo, o Dr. arrumava o quadro, se escondia e o primeiro que passava percebia e “arrumava” para que ficasse novamente torto. A certa altura decidiu perguntar a alguém se não achava estranho o quadro estar torto e a única resposta que recebeu foi a de que não era o quadro que estava torto e sim a parede. Aquilo o intrigava cada vez mais, não adiantava arrumar o quadro e não adiantava perguntar por que o quadro estava torto, pois aquela cidade parecia simplesmente não ver isto. A resposta de todos era de que a parede é quem estava torta.
Hank voltou a se dedicar as suas atividades no hospital, sem deixar de arrumar o quadro toda vez que passava por ele, achava que um dia as pessoas perceberiam que a parede estava perfeita e que o correto era ajusta-lo simetricamente a ela.
Havia uma idosa na fila para se consultar, não estava tão mal, apenas tinha idade avançada e ele receitou alguns remédios a ela, na hora de sair ela se voltou para ele e disse:
- É o Sr. quem tem deixado o quadro torto, não é?
- Pelo contrário, eu tenho arrumado a posição dele, mas já que a senhora mencionou, poderia me explicar o porquê de todos acharem que a parede esta torta?
-Claro, mas a história é comprida.
- Tenho tempo.
- Lembro como se fosse ontem, naquela época não era fácil ter uma fotografia, não era como estas máquinas modernas com estes filmes que é só revelar, era caro e precisava de um fotografo e algumas horas parada na mesma posição. Ivana era uma moça bonita e muito cobiçada, Dimitri a conquistou com seus versos e construiu aquela casa com a ajuda de seus irmãos, morava pouca gente por aqui. Ele era tão apaixonado que quando o fotógrafo chegou ao vilarejo ele vendeu algumas joias que eram herança de seus pais e usou tudo para ter uma foto dela, algum tempo depois nasceu Ivanovski e quando a felicidade do casal parecia completa quis Deus que ela adoecesse e de súbito partisse deste mundo. Dimitri ficou muito entristecido e pendurou a foto na sacada onde costumava ficar admirando-a, ele costumava dizer a quem perguntasse que uma obra de arte como aquela merecia ser admirada por todos e por isto não seria justo pendura-la na sala. O garoto crescia indiferente a dor do pai, era pequeno demais quando a mãe morreu. Dimitri sempre reclamava quando ele jogava bola em frente de casa, pois poderia acertar o quadro, mas o garoto achava que não havia gol melhor que as vigas daquela sacada. Acontece que o garoto sabia como dobrar o pai e um dia enquanto ele escrevia, Ivanovski e um colega jogavam bola usando a sacada como gol, o garoto errou o chute e acertou próximo ao quadro que entortou com o impacto. Dimitri saiu irritado aos berros dizendo que já tinha avisado que ali não era lugar, mas o garoto disse que não estava jogando bola e quando ele indagou sobre o porquê de o quadro estar torto o garoto respondeu: “Não é o quadro que está torto, é a parede que está. Quando o senhor estava lá dentro estava certinho, mas agora que esta na porta desequilibrou o peso sobre a casa e ela entortou fazendo parecer que o quadro está torto, quando na verdade foi a parede que entortou”. O senhor consegue imaginar um garoto de seis anos criando uma história dessas do nada?
- Bem criativo mesmo, mas isto fez a cidade toda manter a história do garoto?
- Claro que não Sr Hank, acontece que o garoto cresceu e se tornou um dos jovens mais importantes da região, ajudava com tudo que podia, se alguém tinha dúvidas na escola ele fazia uma aula de reforço, se faltava mão de obra na colheita ele estava lá, se alguém precisava construir podia contar com ele e ele nunca pedia nada em troca. Só que veio a guerra e Ivanovski não voltou, a tristeza foi de todos, Dimitri entortou o quadro e contou a história no velório do garoto. Quando ele morreu há dez anos a casa ficou vazia, mas os habitantes do vilarejo ajudaram a conserva-la bem cuidada e mantiveram a tradição em memória a três pessoas tão fantásticas que fizeram parte da nossa história.
Hank estava emocionado, nunca mais mexeu com o quadro e passou a entender a fixação daquele lugar, percebeu que algumas coisas parecem erradas àqueles que utilizam o prisma errado e que tentara mudar a cultura de um povo ao invés de entendê-la e se adequar a ela. No fim, percebeu que a parede estava torta simplesmente porque o vilarejo queria que estivesse e que se ele achava que não estava era ele o insano.
Foram mais quatro meses de trabalho e ele iria voltar à Nova York em duas semanas, seu substituto veio conhecer o lugar e quando o acompanhava percebeu aquela casa que destoava das demais.
- Esta casa é mais antiga que as outras.
- Verdade.
- Estranho ninguém arrumar a posição daquele quadro, não consigo observa-lo assim sem me incomodar.
- Mike, sinto lhe dizer, mas não é o quadro que está torto, é a parede que está!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Cabral-Portão 18:30

Paulo pegou o Cabral-Portão às 18:30 lotado como sempre, ele se perguntou como tinha um lugar vago a direita do cobrador, se sentou, estava sem mp3 e sem nada para ler então ficou lá, olhando para fora esperando chegar ao Cabral. Enquanto esperava ele viu o motorista resmungando, ficou ali analisando aquele senhor nos seus cinquenta e tantos anos com um bonezinho de pelo menos dez e uma aparência terna e carinhosa, mas ele resmungava.
Não era seu feitio se meter na vida dos outros, mas foi quase automático quando ele perguntou ao motorista:
- E ai meu velho, o que ta te incomodando?
- Nossa cara, eu não sou de me irritar mas tem um piá que ta me tirando do sério, você acredita que o moleque me espera todo dia e quando eu vou passar pelo semáforo ele aperta o botão do pedestre e passa bem devagar na minha frente e fica rindo da minha cara.
- Mas que bobagem. A quanto tempo ele vem fazendo isto?
- 3 semanas, 3 semanas, 3 SE-MA-NAS!
- É, acho que poderia me irritar também.

Foi exatamente neste momento que ele viu o garoto, devia ter uns 10 ou 11 anos e puxava um carrinho de carregar papelão, ele estava lá, esperando o sinal. Faltando uma quadra e meia ele apertou o botão, o sinal fechou e ele começou a sorrir e passar lentamente na frente do ônibus mas desta vez o motorista desceu, o piá não sabia o que fazer, tinha medo do motorista mas tinha medo de perder o carrinho. Ele ficou parado até o motorista começar a sacudi-lo pelos ombros dizendo:
- E agora moleque? Agora tu vai tomar uns cascudos, porque vem fazendo isso hein? Porque decidiu me incomodar? Fala pirralho, antes que eu te esfole.
Foi então que o menino começou a falar e o motorista a mudar de feição:
- Desculpa tio, mas eu passo por aqui à meses e nesses meses todos sempre que eu passo, eu vejo aquela menina lá – o motorista olhou para a sacada que o menino apontava e nela estava uma menina também nos seus dez, onze anos nervosa e preocupada vendo o que estava acontecendo, mas o que mais o impressionou foi que a guria estava numa cadeira de rodas, então voltou seu olhar para o guri  e continuou - e ela nunca ri, só fica lá parada e desde que eu comecei a incomodar o senhor  ela sempre ri e eu não sei porque, mas eu gosto quando ela ri.
Ele largou o guri e entrou no ônibus, dirigiu até o Cabral e lá Paulo desceu, sem perguntar nada pois quando correu pra janela ele viu e ouviu tudo que aconteceu.
Mas no dia seguinte ele passou o dia esperando chegar as 18:30 e quando chegou, ficou lá esperando pra ver e foi como ele imaginou, o guri estava lá, parou o ônibus e ficou rindo do motorista que colocou a cabeça pra fora da janela e o ameaçou, o xingou e olhou pra menina da sacada rindo e voltou pra dentro do ônibus sorrindo, Paulo também sorriu.

domingo, 22 de abril de 2012

A morte de Ana



O suor lhe escorria o rosto, a faca ainda estava em suas mãos. Ali parado, olhado o corpo dela desfalecido, sentindo o rosto respingado de sangue, o ódio que minutos antes tomava conta dele foi aos poucos sendo substituído pela noção exata do que fizera. Andava em círculos com as mãos junto a cabeça imaginando o que fazer, tentando entender onde perdera o controle para chegar aquele ponto.
Ana e Luiz se conheceram numa festa, ficaram juntos e de tanto ficarem estabeleceram um relacionamento, ela sempre falava do tamanho do seu amor por ele e só ao lado dela ele se sentia feliz e completo. Quando ela começou a se afastar dizia apenas que os afazeres diários estavam ocupando seu tempo mas que ainda o amava como antes. Ele havia se afastado dos amigos e da família e sua vida agora girava em torno dela e cada noite que passava em casa era um martírio de sofrimentos onde acordado tentava encontra-la na cama. Ela, quando o recebia dizia estar cansada para o amor. Numa noite, cansado de estar só, Luiz foi até a casa dela, ele sabia onde a chave estava e a porta era silenciosa. Entrou com cuidado por pensar que ela estava dormindo as duas da manhã. Ouviu alguns barulhos, ela estava nua, entregue sobre o corpo de um estranho no tapete da sala.
Ele saiu da mesma maneira que entrou, possuído pela raiva, sem rumo pelas ruas com um olhar de dar medo a quem o visse. Em sua casa, ligou para ela e disse que queria vê-la, ela disse que estava cansada, ficara até tarde preparando trabalhos de faculdade e não queria vê-lo pois não seria boa companhia. Ele insistiu mas ela não permitiu.
Durante alguns dias ele fingiu não saber e ela permaneceu mentindo, então, ela precisou de ajuda e veio a sua casa, dormiram juntos e então ela disse sobre o favor que precisava. A semana fora ótima e ele quase esqueceu o que tinha visto, então ele terminou o que ela lhe pediu e a ausência voltou a acontecer. Parado em frente a casa dela percebeu quem era o homem que a visitava. No outro dia foi conversar com ele fingindo não saber e em meio a conversas ele contou que estava namorando uma linda mulher que estava saindo de um relacionamento conturbado com um rapaz que nunca amara, disse que ela ainda não tinha conseguido terminar definitivamente com ele mas já não dormiam juntos a quase um ano.
Luiz não conseguiu aceitar, aquelas palavras ardiam a seus ouvidos, foi a casa de Ana e ela relutou em recebê-lo pedindo que fosse embora. Ele insistiu na conversa, ela disse que o amava e ele disse que sabia de tudo, ao invés de admitir ela permaneceu mentindo dizendo que estava decepcionada com ele por não acreditar no que ela dizia. Quando não havia mais como negar, ela gritava dizendo que ele tinha invadido a privacidade dela entrando em sua casa sem o seu consentimento, ele gritava palavrões e ela deu as costas para ele dizendo que a conversa estava terminada e que iria fazer o seu jantar. Luiz a seguiu e ela admitiu a verdade zombando dele, ele a segurou pelo pescoço, ela pegou a faca que estava em cima da pia, ele tomou a faca dela e antes que pensasse no que estava fazendo Ana já estava no chão esfaqueada se esvaindo em sangue.
Sem saber o que fazer, Luiz fugiu, mas a culpa o alcançou antes que alguém soubesse o que tinha acontecido, com as roupas ainda sujas de sangue foi ao morro mais alto que encontrou, teve medo, teve receio, mas não conseguiria viver num mundo sem ela, num mundo sem amor, num mundo em que ele fosse responsável por tirar uma vida. Foi então seu próprio juiz e se atirou da montanha. Há coisas que não tem perdão, há atitudes que não há como voltar e ele sabia disto. Enquanto caia ele pensava nela, pensava em si e entendia que fora uma atitude covarde mata-la e mais covarde ainda se atirar daquela maneira, entendeu então que não era um homem e sim um garoto e percebeu que não tivera coragem nem mesmo de enfrentar as consequências dos seus atos.

Autor: Arthur Lingard

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Quem um dia irá dizer que não existe razão ...




Ela já havia sido tocada antes mas não com aquela intensidade, as mãos dele sobre seu corpo produziam mais que excitação, era um sentir que provinha de seu interior. Seus beijos a deixavam vulnerável, seu toque a tomava por inteiro e ela faria o que ele desejasse naquele momento. Ele gostava do que via em seus olhos, do descontrole que seu corpo demonstrava. Há tempos ela o desejava porém ele não permitia sua aproximação, não demonstrava interesse. Se viam todos os dias no trabalho, ele a ganhava com o olhar, ela o conquistava no sorriso e ambos evitavam dar o passo decisivo que desnudasse a aparência de formalidade com que dirigiam-se um ao outro e tornasse claro o desejo que os consumia. Enquanto ele tirava suas roupas com a urgência que os casais sentem quando queimam de desejo, ela entregue tentava imaginar porque tentará esconder de si própria por tanto tempo o quanto o queria. “Que deliciosa coincidência o trouxe aqui hoje” pensava ela. A boca dele em seu corpo a enlouquecia, fora tanto tempo imaginando como seriam aqueles beijos. Se cruzaram durante semanas desde que ele foi transferido ao setor dela mas jamais teriam arriscado algo a mais se naquele sábado ela não tivesse decidido caminhar.
Morava perto a um parque arborizado e era sempre prazeroso estar naquele lugar, a vida que acontecia, a liberdade, o ar. Sentou-se a beira da trilha no gramado observando as pessoas e saboreando cada pequena coisa que acontecia, tudo era tão interessante, fazia seus pensamentos voarem longe. Era um dia como qualquer outro em que ela voltaria para casa sozinha. O sol da manhã ofuscava sua visão, ele vinha em sentido contrário com o sol as costas e pode observa-la bem antes de se aproximar. Precisou colocar suas mãos a frente dela para que ela observasse o rosto daquele intruso que insistia em permanecer no caminho. Era costume dela andar de cabeça baixa, se sentia constrangida em olhar para o rosto das pessoas, em vez disto, preferia observar impessoalmente a todos apenas o necessário para desviar deles, gostava de ser uma anônima na multidão. Mas o intruso estava ali e por mais que ela tentasse desviar ele novamente trancava a passagem, ela não pode conter o sorriso quando percebeu quem estava a sua frente. O brilho em seus olhos fez o rapaz se sentir constrangido e cumprimenta-la apenas comum “oi”, ela imediatamente tentou puxar assunto, mostrar que estava feliz em estar ali sem mostrar seu real desejo mas desejou que ele ficasse o máximo possível a seu lado. Ele era mais bonito com aquelas roupas que provavelmente estavam em cima na pilha do armário do que com a vestimenta formal que ela estava habituada a vê-lo. Ele tentou se despedir, imaginando ser inconveniente prolongar a conversa. Ela não permitiu, ao invés disto tomada de toda coragem que conseguiu juntar o convidou para um almoço e antevendo que ele pudesse dizer não por questões financeiras complementou o convite dizendo que tinha preparado algo especial antes de sair de casa mas que comeria sozinha e que seria bom ter companhia naquele dia.
O vinho lhes permitia arriscar mais nas palavras e a proximidade dos rostos e dos corpos diminuía a todo instante, ele tocou seu rosto esperando um sinal, ela retribuiu com uma caricia velada em sua bochecha, esperava o beijo. Ele pode perceber quando ela molhou os lábios discretamente e se aproximou com calma, ela abaixou as mãos como quem autoriza a entrada a um visitante, ele tocou seus lábios devagar desbravando-os com cuidado, ela pôs as mãos na nuca dele e ele a tomou com toda vontade que guardará por tanto tempo cada vez que ela passava por ele. Ela estava ainda mais linda com o rosto corado e o corpo entregue. Ele a despiu, a tocou, a beijou e a penetrou, tinha intensidade, tinha vontade, ela não era uma mulher comum, despertava nele um desejo intenso e foi assim que ele a possuiu por várias vezes durante aquele dia.
Naquela segunda-feira, mal sabiam como agir, ele tentava interpretar o olhar dela e ela tentava interpretar o sorriso dele, não houve quem não notasse que havia algo diferente ali. Talvez fosse o principio de um romance, talvez não, certeza só havia que o acontecido seria inesquecível e que provavelmente se repetiria novamente, talvez no Sábado, talvez na Sexta, ou talvez naquela mesma Segunda-feira.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Quem não sabe rezar?

Me deparei com este conto em um blog e achei muito bom.
Original: http://ocaminhodeumperegrino.blogspot.com.br/2012/03/quem-nao-sabe-rezar.html

Na cidade de Berditchev, vivia o grande rabino Levi Yitzchak. Segundo o costume local, em Yom Kipur o Rabi Levi Ytzchak seria o chazan (condutor da reza) em Mussaf. No grande dia, toda a comunidade de Berditchev estava reunida na sinagoga e, depois de toda a noite rezando, e de manhã, todos esperavam o tão respeitado rabino.

Chegada a hora, ele não assumiu a sua habitual posição de chazan na reza de Mussaf. As pessoas começaram a ficar impacientes. O tempo passa e o Rabi ali, de olhos fechados e sem se mover. Todos estavam ficando nervosos, afinal já haviam rezado muito e estavam sem comer há tantas horas. De repente o Rabino levanta-se e declara:

- Agora estou pronto para ser o chazan. Esperei até agora, porque tinha um judeu muito simples entre nós que não sabe rezar, nem ler. Então, ele disse para D'us: 'Eu não sei nem rezar nem ler, mas uma coisa eu sei: o alfabeto hebraico. Então irei repeti-lo várias vezes e Você, D'us, junte as letras do jeito que quiser.' Eu estava esperando D'us juntar as letras”.
Autor : Rabino Daniel Segal

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Madrugada




É madrugada, ele acorda com aquela sensação estranha, os pensamentos a mil e sem um pingo de sono. Ele sabe que deve dormir pois durante o dia não poderá. Fato é que por algum motivo aquela manhã tinha ares propícios a reflexão.
Os dias haviam passado rapidamente e ele já não sabia dizer com certeza se estava bem consigo mesmo. Sentado na janela com uma xícara de café em mãos parecia que tudo estava prestes a mudar para melhor, era aquela sensação corriqueira inerente aos poucos momentos de tranquilidade que a vida moderna lhe permitia ter.
O sol nasceu e ele permanecia ali, inerte apenas a observar as coisas como aconteciam, o movimento dos carros aumentando, o barulho das motocicletas, as pessoas que andavam apressadamente, era a vida de uma cidade. Pensou em quantas histórias passavam em frente a sua janela, cada um com sua família, sua vida, seus problemas e suas conquistas. Entendeu que tudo estava interligado mesmo que aparentemente tão desconexo.
Tomou um longo e demorado banho ainda com aquele ar de reflexão, decidiu que faria tudo diferente neste dia, que só por hoje ia fingir que não haviam compromissos, estava com tempo, podia se dar ao luxo de um ritmo mais lento de preparação.
Pela primeira vez em anos não se sentiu irritado com a demora do elevador e até foi recompensado pelo perfume da bela morena que chegou dentro dele, “de que andar será que ela é?” pensou, “pouco importa, é mais uma história que não vou conhecer”. A vida segue e a rua esta com um ar leve e fresco que só uma manhã pode proporcionar, o trabalho é repetitivo, assim como as piadas do colega da mesa ao lado sempre achando que decorar uma frase de um livro e repeti-la enfaticamente é expressar opinião própria. “Como os dias passam rápido”, pensou.
A noite o caminho é mais escuro e as ruas se enchem de mulheres oferecendo seus corpos, esta noite um pensamento diferente veio a sua cabeça, teve medo de vê-la entre elas, não que pensasse nisto mas percebeu que talvez algumas daquelas moças tivessem mais dignidade que ela. Já estava se tornando praxe acreditar que estava livre e num rápido lampejo seus pensamentos retornarem a ela.
“Como mudar uma vida que não caminha mantendo-se dentro do limiar da rotina?” andar é algo que sempre ajuda, “vou a farmácia, cinco minutos a menos em casa” atravessou a praça e caminhou por dentro do estabelecimento, não procurava nada, nem carregava dinheiro consigo, apenas queria ver alguém, sentir algo diferente, ele precisava se apaixonar. “a moça da sessão de tintas sorriu pra mim” ela ficou mais alguns instantes escolhendo a cor nova do cabelo e foi ao caixa, ele, não falou com ela, apenas continuou seu caminho pra casa, observando e saboreando a vida da cidade. “E agora? O jeito é voltar para o computador e pra mais uma madrugada em que talvez eu durma, talvez não”.
O porteiro sempre leva um tempo a abrir a porta, “assobio pra ele perceber que estou aqui? Ele me viu”. Passando pela portaria um boa noite quase mecânico pra um porteiro que ele não sabe o nome, “o elevador já esta aqui, pelo menos não preciso esperar”, ele nem ao menos sabe porque se importa tanto em ter ou não que esperar o elevador pra chegar em casa e fazer nada.
A porta do elevador se abre e a luz do corredor se acende sozinha, “mais um dia, ou, menos um dia” girou a chave na porta, abriu as janelas para arejar a sala, e logo ligou o computador. Já não havia mais ânimo para as conversas, menos ainda para fazer piadas ou comentários. Atualizou alguns jogos por puro costume, “quando eu vou perceber que não aguento mais jogar esta merda?”
Estava mais cansado que de costume, encostou a cabeça no travesseiro e percebeu que tudo ainda estava como antes, seu coração estava cansado e sua esperança era cada dia menor, lembrou de coisas que haviam acontecido e quis dormir, quis não acordar, mas para sua tristeza sabia que amanhã seria outro dia e que ele teria que levantar!